
Com Álvaro Ludgero Andrade, em Washington D.C.
“50 anos de independências africanas vistos pelos seus cidadãos” é uma obra que recolhe testemunhos de 40 personalidades dos países africanos de língua portuguesa e que será lançada ainda neste mês de novembro em Portugal. Um registo histórico e didáctico desse processo que não é posto em causa por nenhum dos participantes convidados a deixar o seu testemunho no livro, mas que também não é pintado de ouro.
“Podia ser melhor, mas também poderia ser pior”, é como responde o coordenador principal do livro, Eugénio Costa Almeida, quando lhe peço um pequeno resumo do que escreveram as 40 personalidades na obra. Ele acrescenta que são “testemunhos honestos de pessoas que tiveram responsabilidades nesse processo e outras que o vivenciavam como sociedade civil e observadores.
“Há pessoas que têm uma análise crítica bastante forte sobre esses 50 anos, há quem tenha uma análise crítica optimista dizendo que foi bom mas podia ser melhor, outras afirmam que não foi bom mas podia ser pior, cada uma deu a sua opinião em função também das áreas que fala, nomeadamente os políticos e aquelas que estão diretamente envolvidas na sociedade civil. Ninguém deu uma visão dourada, mas apontaram o que está bom e o que está mau. Devo dizer que também nenhum deu uma visão demasiado “roxeada” da situação”, afirma Costa Almeida. Questionado se a independência dos cinco países africanos de língua portuguesa foi colocada em causa, aquele escritor é peremptório: “não, ninguém pôs em causa a independência, ou seja que os respectivos países não deviam ser independentes, mas creio que dois puserem em causa a forma da independência, mas não a independência”.
Eugénio Costa Almeida, natural de Lobito, Angola, e doutorado em Ciências Sociais, ramo Relações Internacionais, é investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, investigador sénior associado do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Social de África e investigador associado do Cinamil-Academia Militar de Lisboa e autor de várias obras.
Rui Verde, natural de Lisboa, Portugal, e doutor em Direito, é investigador no African Studies Center, Universidade de Oxford e Ceped, Universidade de Paris-Cité, professor na Sri Sharada Indian Management School, analista jurídico do portal Maka Angola e co-fundador do Angola Research Network.
No passado mês de março, Costa Almeida e Verde decidiram reunir testemunhos de personalidades desses países e convidaram 100 políticos, diplomatas, académicos, jornalistas, artistas, escritores, arquitectos e outras personalidades da chamada sociedade civil a participarem com um testemunho. “A linha orientadora foi um texto livre sobre os 50 anos da independência nacional e como deverão ser ou como veem os próximos 50 anos”, conta o coordenador principal.
Desse total, apenas 40 pessoas responderam, “apesar dos muitos esforços junto de todos os convidados” e, embora os autores tenham procurado um equilíbrio entre homens e mulheres, “apenas um terço dos participantes é mulher”.
Eugénio Costa Almeida lamenta que nem todos responderam e destaca que, entre os dirigentes actuais dos cinco países, apenas o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, e o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, responderam e enviaram os seus textos. Com a Presidência de São Tomé e Príncipe, o contacto não foi possível, “apesar de muitos esforços e contactos indirectos”.
No caso de Cabo Verde, além de Neves e Correia e Silva, o antigo primeiro-ministro e ex-candidato presidencial Carlos Veiga também participa com o seu testemunho. Alcides Sakala, Ana “Margoso”, Anastácio Sicato, Arlete Chimbinda, Belarmino Van-Dúnem, Celso Malavoloneke, Denilaide Cunha, Domingos Kimpolo Nzau, Domingos Simões Pereira, João Craveirinha Jr, João Sacio Kandjo, Joaquim Rafael Branco, Jorge Castelo David, José Luís Mendonça, Maria da Imaculada Melo, Mihaela Webba, Onofre dos Santos, Orlando de Castro, Sandra Polson, Sedrick de Carvalho, Victor Hugo Mendes, William Tonet e Zeferino Boal são alguns dos que deixaram o seu testemunho. “Alguns enviaram autênticos ensaios, que decidimos incluir”, acrescenta Costa Almeida.
Refira-se que os coordenadores do livro, com amplo conhecimento e muita produção de material sobre África, também fazem a sua apreciação do processo. Na apresentação, eles salientam que “esta não é uma colectânea de memórias, mas um convite à reflexão sobre o passado, o presente e os caminhos futuros das nações africanas lusófonas”.
Eugénio Costa Almeida conclui a nossa conversa dizendo que é, sim, “um registo histórico, até pelas personalidades que contribuíram, didáctico porque as pessoas irão ler e absorver o que as pessoas escreveram, algumas deram pistas sobre o que esperam vir a ser, e também é um testemunho dessas personalidades.
O livro, uma produção das editoras Elivulu (Angola) e Perfil Criativo – Edições (Portugal – UE), já está em pre-venda.













































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