Segunda-feira, 28 Abril 2025

Tesouros de Cabo Verde

Campanas, celeiro do Fogo

Tchom modjado, ó corda ó rabenta!

 Por: José Araújo – Promotor de Turismo Rural 

Povoado de São Filipe, norte da ilha do Fogo, a região está dividida em Campanas de Baixo, de Meio e de Cima, localidades conhecidas pelas suas grandes potencialidades agrícolas, com realce para a produção de tubérculos como mandioca e batata-doce, feijão (congo ou feijão – figueira). Atualmente boa parte desses produtos são conservados e transformados em camoca, pirão, farinha de mandioca, farinha de batata-doce e até em ervas para chás, o que tem promovido a sua valorização e melhor aproveitamento. Com as frutas da região são confecionados doces diversos. Ali nasce também o famoso milho cochido para a cachupa, xerém, djagacida, pastel, totoco, cuscuz e batanquinha, produtos de grande recetividade no mercado na ilha e no exterior.

 

Em Campanas de Cima, matrimónio selado nas sinfonias do violinho de Vasco de Linda era um vínculo válido, sério, sem aventura e visto como uma indissolúvel e indivisa comunhão de vida e de amor numa só carne.

 

Campanas, mais concretamente de Baixo, é terra de Ana José Rodrigues, Nha Ana Procópio. Bela, sedutora e afamada cantadeira da ilha, no género de Kurkutisan ou Rafodjo. Suas cantigas improvisadas, desafiantes eram, muitas vezes, utilizadas para satirizar e distorcer aspectos imorais e de descomedimento social. Hoje, danças de salão como mazurca, valsa, paravante, atalaia baixo e xotis são praticadas e ensaiadas vivamente pelo Grupo Cultural Ana Procópio.

O folclore e as tradições são fortemente celebrados nas Campanas. Desde as festas de São João, no Cutelo de Coicoi, e de Santa Teresinha, em Campanas Riba, até a Banderona, festa tradicional, popular e típica de Campanas de Baixo. A Banderona, ou a Festa de Bandeira de São João Baptista, uma das mais longas de Cabo Verde, começa no dia 31 de janeiro, com o ritual do pilão e prolonga por vinte e quatro dias de convívio, festa rija e farta em comidas, bebidas, com rituais diversos, foguetes e pirotecnia.

Campanas oferece um espaço acomodável e prazeroso para repousar e também para os amantes do turismo de natureza e de “trekking”. Pode-se fazer caminhadas em espaços privilegiados, de relevos com acidentes fascinantes e diversos: Campanas de Baixo – Atalaia, via Volta – Volta; Campanas de Cima – Campanas de Baixo; Campanas de Cima – Monte Velha; Campanas de Cima – Chã das Caldeiras; toda a parte baixa de Ribeira da Cruz, Cerco Baixo, Fundango, Djeu de Baixo e Gudja.

Campanas é mais do que paisagens e festas rijas, oferece também praias como a de Sopra, tranquilas, desertas e convidativas para um relaxante banho.  

No futuro, Campanas pode ter ainda mais a celebrar em termos de dinâmica e crescimento, sobretudo quando chegar água e a estrada que fará a ligação com Chã das Caldeiras, passando por Piorno.  Representará uma oportunidade histórica, um volte face que se expressará no aumento do potencial e desenvolvimento da região e do Fogo.

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