
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados hoje, 11, revelam que os estabelecimentos hoteleiros de Cabo Verde receberam 325.135 hóspedes no primeiro trimestre de 2025, registando um crescimento de 7,2% face ao mesmo período de 2024, ou seja, o turismo continua sendo o principal motor da economia nacional, e confirma que o país precisa urgentemente diversificar a sua economia.
O crescimento do turismo cabo-verdiano, embora positivo em termos de indicadores económicos, coloca o país num dilema fundamental. Por um lado, o setor gera divisas, emprego e investimento essenciais para o desenvolvimento nacional. Por outro, a dependência extrema de um único setor económico, concentrado geograficamente e controlado maioritariamente por operadores externos, cria vulnerabilidades estruturais que podem comprometer a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento.
A ilha do Sal mantém a liderança absoluta com 56,9% do total das entradas e 57,7% das dormidas, e a Boa Vista surge em segundo lugar, com 21,6% das entradas e 32,7% das dormidas. Enquanto estas duas ilhas captam cerca de 90% do fluxo turístico nacional, Santiago, a capital e centro administrativo do arquipélago, registou apenas 8,1% das entradas e 3,8% das dormidas, seguida de São Vicente, com 6,3% das entradas e 2,9% das dormidas. Santo Antão captou 5,0% dos hóspedes e 1,9% das dormidas, enquanto as restantes ilhas tiveram um peso conjunto de apenas 2,2% das entradas e 1,0% das dormidas.
Esta concentração do fluxo económico maioritariamente em duas ilhas deixa o país vulnerável a fenómenos naturais, problemas de conectividade aérea ou mudanças nas preferências dos turistas, podendo comprometer toda a economia nacional, a exemplo de 2020 com a chegada da Covid-19 e o fechamento das fronteiras.
Ademais, esta estrutura reforça a dependência de investimento externo e pode criar uma economia dual onde o crescimento turístico e a classificação do país como economia de rendimento médio alto não se traduzem necessariamente em desenvolvimento socioeconómico equilibrado. O atual crescimento, embora encorajador, deve servir de alerta para a necessidade de construir uma economia mais diversificada e menos vulnerável a choques externos.
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