Quinta-feira, 16 Outubro 2025

Freskinhe Freskinhe

“Proteger o oceano é condição de sobrevivência”, diz José Maria Neves

O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, abriu esta sexta-feira, 10, a IV Conferência da Década do Oceano com um discurso que colocou a proteção dos mares no centro das prioridades nacionais e globais. Na cerimónia realizada na ilha do Fogo, o chefe de Estado sublinhou que “proteger o oceano é hoje condição de sobrevivência civilizacional” e apresentou um conjunto de medidas urgentes para a preservação do meio ambiente marinho.

SALWEB.cv

Na qualidade de Champion da União Africana para a Preservação do Património Cultural e Natural de África e patrono da Aliança da Década do Oceano, José Maria Neves assumiu a responsabilidade de representar os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. “Este compromisso não é apenas institucional, é moral, civilizacional e profundamente humano”, afirmou.

O Presidente apresentou cinco linhas de ação consideradas urgentes. A primeira passa pela gestão integrada do território e do espaço marítimo, com o fim de práticas como a extração desregulada de areia e a ocupação desordenada das zonas costeiras. O combate à poluição marinha, principalmente provocada pelo plástico, surge como prioridade neste eixo.

O reforço da resiliência hídrica e energética constitui o segundo pilar, com aposta na captação de águas pluviais, modernização dos sistemas de dessalinização e expansão das energias renováveis. “As energias limpas não têm importação nem pagamento de tarifas”, destacou, referindo-se à soberania energética do país.

A promoção de uma economia azul inovadora e sustentável representa a terceira linha de ação. José Maria Neves defendeu a valorização da aquacultura, biotecnologia marinha, transportes marítimos e turismo responsável como motores de prosperidade partilhada. O investimento na literacia ambiental, especialmente junto dos jovens, foi apontado como o quarto eixo. Por fim, o Presidente advogou o alargamento e a gestão eficaz das áreas marinhas protegidas, com participação ativa das comunidades locais.

Municípios como guardiões do mar

José Maria Neves apelou às autarquias locais para que assumam o papel de guardiãs do território marinho e costeiro. “É importante que esta assunção não seja uma mera tarefa acessória, mas sim parte integrante da sua missão de desenvolvimento local”, defendeu.

O chefe de Estado destacou ainda a necessidade de acelerar a implementação das reservas mundiais da UNESCO nas ilhas do Fogo e do Maio, considerando-as “laboratórios vivos de ciência, turismo sustentável e convivência harmoniosa entre desenvolvimento e conservação”.

José Maria Neves reivindicou a reforma da arquitetura financeira internacional para que a vulnerabilidade seja reconhecida como critério de acesso a financiamento. “Quem está na linha da frente do risco deve estar também na linha da frente da ação”, declarou.

O Presidente reforçou a vocação atlântica de Cabo Verde como ponte entre continentes e culturas, e manifestou o empenho do país no fortalecimento de uma diplomacia azul africana baseada na ciência e na cooperação. A conferência, que teve o apoio das câmaras municipais do Fogo e da Brava, do projeto Vitó, do Ministério da Educação e de organizações da sociedade civil, decorreu sob o lema “Unindo saberes, protegendo os mares: ciência oceânica para todos”. O evento reuniu investigadores, universidades, organizações não governamentais e comunidades locais.

José Maria Neves encerrou o discurso de abertura com um apelo à consciência intergeracional: “Aqueles que herdarão os nossos mares têm direito a um oceano vivo, fértil e protegido”.

SALWEB.cv AD

Tags

Partilhar esta notícia

Risco e Riso
Kriol na ponta língua