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A Biblioteca Comunitária Casa Lata nasceu no âmbito da disciplina de Laboratório de Relações com os Média, do terceiro ano do curso de Relações Públicas e Secretariado Executivo da Escola de Negócios e Governação da Universidade de Cabo Verde (UniCV). Sob a orientação da docente Sandra Lima, o projeto foi concebido para ir além da teoria académica, criando um trabalho com impacto real na vida das pessoas.

“Eu queria que fosse algo mais prático, que fosse um trabalho com impacto social, ou seja, que mudasse a vida das pessoas, dos jovens, das crianças nas comunidades”, afirmou a professora Sandra Lima durante a inauguração. “Este projeto foi também em parceria com o Dominick, e se não fosse a família, neste caso a mãe, que cedeu o espaço, nós não teríamos também a biblioteca. Os projetos não existem se nós não tivermos ‘junta-mão’.”

Dominick Donk, jovem morador e ativista social da comunidade Casa Lata, foi quem pensou e cedeu o espaço em sua casa para a criação da biblioteca. Durante a cerimónia, Dominick partilhou palavras emocionadas sobre o significado deste momento para a comunidade.

“Casa Lata é mais do que uma comunidade, é mais do que um bairro. Casa Lata é uma casa”, declarou Dominick. “Ali é um lugar que floresce realmente aquele espírito de comunidade, de família. Ali todos os meninos são sobrinhos, todos os grandes são tios. É como se fosse realmente uma única família só.”

Para Dominick, a biblioteca representa uma mudança de mentalidade: “Se nós nunca temos um apartamento no quarto andar para chamar de nossa casa, hoje nós estamos ricos para morar em um bairro inteiro para nos chamar de nossa casa, e ter uma comunidade inteira para nos chamar de nossa família. Aquele que era o motivo para nos pensarmos que nós somos pobres, torna ao mesmo tempo o motivo para termos consciência de que nós somos ricos.”

Edson, um dos estudantes responsáveis pelo projeto, explicou que a iniciativa surge como uma demonstração do compromisso dos futuros profissionais com a sociedade cabo-verdiana. “Mais do que um trabalho académico, é realmente a demonstração de um compromisso que estamos aqui a fazer para a sociedade de Cabo Verde”, afirmou.

A professora Sandra Lima enfatizou que os alunos serão avaliados pela sua capacidade de serem verdadeiros agentes transformadores: “Somente dizer ‘já tenho diploma’ não é suficiente, mas sim, dizer também que eu tenho esta responsabilidade de transformar vidas das crianças, dos jovens, e também de ver situações com crianças vulneráveis, e juntarmos as mãos e tentarmos arranjar soluções.”

A biblioteca conta com diversos tipos de livros, incluindo clássicos da literatura cabo-verdiana, obras que constam do Plano Nacional de Leitura de Cabo Verde e títulos de literatura internacional. O Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, através da Biblioteca Nacional de Cabo Verde, fez uma doação significativa de títulos que enriquecem o acervo disponível para crianças, adolescentes e adultos da comunidade.

Segundo Edson, a biblioteca dispõe de livros para crianças, incluindo obras sobre animais, pintura, matemática, história e ciências. “É uma biblioteca aberta para todos, então qualquer pessoa aqui da comunidade de Casa Lata pode usufruir dessa biblioteca. Atualmente está a ser utilizada mais pelas crianças, mas está aberta para qualquer tipo de público”, explicou.

O sucesso do projeto deve-se à colaboração de diversos parceiros que acreditaram na iniciativa como destaca a organização. A ICCA (Instituto das Cabo-verdiana da Criança e Adolescentes), a empresa AMBEV no fornecimento de cadeiras e prateleiras, a Associação Acrides, Ministério da Agricultura e Ambiente e a empresa EME-MarketingEventos foram reconhecidos com certificados de distinção pelo contributo dado ao projeto.

Para além de ser um espaço de leitura, a Biblioteca Comunitária Casa Lata representa um modelo de transformação que pode ser replicado noutras comunidades de Cabo Verde. Dominick destacou que o projeto faz parte de um processo mais amplo de desenvolvimento que inclui a pacificação, investimento na educação e no desporto.

“Hoje as crianças estão empenhadas, realmente entusiasmadas, o conhecimento que aprendem mais, percebem mais”, observou Dominick. “Você tem realmente um impacto grande naquelas iniciativas que leva a cabo dentro de Casa Lata, e são iniciativas que pode levar como exemplo e como metodologia prática para implementar em qualquer outra comunidade de Cabo Verde.”

O jovem ativista refere que Casa Lata, uma das zonas consideradas mais perigosas do país, está a mudar a sua narrativa através do investimento no conhecimento e no desenvolvimento das novas gerações. “O impacto realmente muda a mentalidade das novas gerações para ter uma sociedade ainda mais melhor”, afirmou Edson.

A inauguração da Biblioteca Comunitária Casa Lata é mais do que um evento simbólico. É a prova de que a educação, quando aliada ao compromisso social e ao espírito de comunidade, pode transformar realidades e criar oportunidades. É um testemunho de que a universidade pode e deve estar presente nas comunidades, não apenas como fonte de conhecimento teórico, mas como agente ativo de mudança social.

Como afirmou a professora Sandra Lima, “o meu coração ficou muito tocado, principalmente quando vemos estudantes com este carisma, com este dinamismo, com esta capacidade de não se apegarem só àquilo que é dado na sala de aula, mas também de saírem das salas e irem à procura de outras realidades e transformarem a vida dessas crianças.”

A biblioteca já está em funcionamento e aberta a toda a comunidade de Casa Lata, proporcionando às centenas de crianças e jovens da zona um ambiente saudável de conhecimento e desenvolvimento.