
Julius e Vanessa Britto chegaram a Cabo Verde com uma missão especial: mostrar às gerações mais novas da família as raízes que os ligam a Rubon Manel, no concelho de Santa Catarina. Os irmãos americanos, bisnetos de Bernardino Horta Varela – que emigrou para os Estados Unidos em 1875 – foram recebidos hoje pelo Presidente da República, José Maria Neves, numa audiência que simboliza o reencontro de uma família com a terra dos seus antepassados, 150 anos depois da primeira partida.
A ligação da família Britto a Cabo Verde remonta ao século XIX, quando Bernardino Horta Varela, natural de Ribeirão Manuel, embarcou num navio baleeiro rumo aos Estados Unidos em 1875. Deixou para trás a esposa e duas filhas pequenas, uma com um ano e outra com dois anos. Durante 17 anos, a família não teve notícias suas, chegando a pensar que tinha morrido no mar.
O que aconteceu foi bem diferente. Após navegar pelo mundo, Bernardino chegou a Massachusetts, onde comprou uma propriedade de 300 hectares. Decidiu então regressar a Cabo Verde para buscar a família. Quando voltou a Ribeirão Manuel, foi uma surpresa para todos – as filhas já tinham 17 e 19 anos.
A viagem de regresso aos Estados Unidos tornou-se épica. Partiram da Brava num navio semelhante ao Ernestina, mas foram apanhados por uma tempestade que derrubou o mastro principal. Ficaram à deriva durante semanas, com pouca água e comida. O capitão abandonou o navio, mas Bernardino, com a experiência de baleeiro, conseguiu dirigir a embarcação até serem socorridos por um navio italiano que os levou para Nova Iorque.
Quatro gerações em Cabo Verde
Agora estão em Cabo Verde, cumprindo uma viagem é especial porque marca a primeira vez que quatro gerações da família Britto estão simultaneamente no país. O programa inclui momentos simbólicos como a visita à Fundação Amílcar Cabral no primeiro dia, a participação nas cerimónias oficiais do 50º aniversário da independência no sábado, e um almoço familiar em Ribeirão Manuel no domingo.
“Agora é hora de garantirmos que as outras gerações continuarão esta conexão”, explica Vanessa Britto, que vê esta viagem também como “uma homenagem ao Julius, por ter viajado ainda jovem para Cabo Verde, tornando-se na primeira pessoa da nossa família a voltar ao país”.
O programa inclui ainda visitas a locais históricos como Cidade Velha, o antigo campo de concentração do Tarrafal, e diversos pontos da ilha de Santiago, permitindo que as gerações mais novas conheçam não apenas as raízes familiares, mas também a história do país.
Um marco dos 50 anos
Para Julius, esta quinta visita a Cabo Verde representa “o fechar de um ciclo”. Há 50 anos, era um jovem de 25 anos que testemunhava o nascimento de uma nação. Hoje, aos 75 anos, regressa para celebrar meio século de independência de um país que muitos consideravam “inviável”.
“Eu tenho visto progresso”, afirma Julius sobre a evolução de Cabo Verde. “Espero sentir muito orgulho, muita gratidão e muita apreciação pelas lutas que muitos cabo-verdianos passaram para que Cabo Verde se tornasse independente.”
A visita da família Britto simboliza a força dos laços que unem a diáspora cabo-verdiana à terra de origem, provando que nem o tempo nem a distância conseguem quebrar as ligações profundas entre os cabo-verdianos e o seu país, mantendo viva a memória e o compromisso com as raízes ancestrais.
Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados.