
A Representante Residente das Nações Unidas em Cabo Verde, Patrícia Portela, apela ao reforço do apoio dos parceiros internacionais a Cabo Verde em 2026, incluindo do setor privado, para garantir a continuidade e o sucesso dos planos de desenvolvimento do arquipélago, num contexto global marcado por crescentes dificuldades no financiamento ao desenvolvimento.
Em entrevista à agência Lusa, Patrícia Portela fez o balanço de 2025 e projetou os principais desafios para 2026. Segundo a responsável, o país alcançou progressos relevantes em vários Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas enfrenta agora uma fase mais exigente do seu percurso de desenvolvimento.
Portela sublinhou que o próximo ciclo exige investimentos mais ambiciosos, sobretudo nas áreas da transição digital, da transição energética e da economia azul, destacando que Cabo Verde, sendo “99% mar”, dispõe de um recurso natural com elevado potencial económico, desde que explorado de forma estruturada e inclusiva.
A representante das Nações Unidas alertou para a redução do apoio internacional ao desenvolvimento, num cenário em que muitos países priorizam investimentos ligados à defesa. Defendeu ainda maior criatividade na mobilização de recursos e na identificação de novas oportunidades de financiamento.
No domínio da ação climática, Patrícia Portela apontou Cabo Verde como um exemplo de mobilização de recursos, assim como a aceleração desse esforço após um ano marcado por fenómenos meteorológicos extremos. Recordou, neste contexto, a tempestade Erin, em agosto, que causou nove mortes em São Vicente e provocou danos também em Santo Antão e São Nicolau, bem como outras intempéries registadas na ilha de Santiago, no último trimestre do ano.
As agências das Nações Unidas têm trabalhado com as autoridades nacionais na criação de sistemas de alerta precoce, no planeamento de serviços e na reconstrução de infraestruturas com maior resiliência, num esforço que, segundo a responsável, contribui para vários ODS em simultâneo.
Entre os exemplos de boas práticas, destacou a plataforma Blue-X, desenvolvida na Bolsa de Valores de Cabo Verde em parceria com a Bolsa do Luxemburgo, e o acordo com Portugal para conversão de dívida em investimento climático. Estes instrumentos enquadram-se nos projetos em curso na transição energética, que incluem o reforço da produção eólica e solar e soluções de armazenamento, permitindo antever que, até 2030, cerca de metade da eletricidade consumida no país terá origem renovável.
No balanço de 2025, a coordenadora residente da ONU salientou ainda a estabilidade macroeconómica e o crescimento económico de Cabo Verde, apesar de um contexto internacional adverso, bem como a redução significativa da pobreza, em especial da pobreza extrema. Referiu igualmente que mais de 60% da população está coberta por pelo menos um regime de proteção social, permitindo uma identificação eficaz das pessoas mais vulneráveis.
Patrícia Portela destacou também os avanços na transformação digital, materializados na entrada em funcionamento dos parques tecnológicos da Praia e do Mindelo e na expansão dos serviços públicos digitais, considerando a transição digital um acelerador decisivo para os ODS num país arquipelágico.












































