
O jurista, escritor e diplomata Jorge Tolentino apresentou ontem, na Praia, a sua mais recente obra, O Arquipélago das Amnésias. O lançamento contou com um painel de apresentação composto por Carlos Reis e Domingos Mascarenhas, que destacaram a importância do livro como reflexão crítica sobre a memória e a identidade de Cabo Verde.
Em O Arquipélago das Amnésias, Jorge Tolentino reúne textos escritos ao longo de vários anos, ora preparados para conferências, ora reflexões sobre obras de outros autores, ou ainda registos críticos sobre as responsabilidades que assumiu como governante e cidadão. Apesar de aparentemente fragmentários, os textos articulam-se numa reflexão coerente sobre a tendência de “desconstrução” e “desconsideração” do passado que, segundo o autor, tem prejudicado o processo de desenvolvimento e maturação do país.
“O que tem prejudicado imenso o próprio processo de desenvolvimento e de maturação de Cabo Verde é esta lógica do eterno recomeço, de desconsideração pelo trabalho feito e de amnésia deliberada”, afirmou o autor durante a apresentação, sublinhando que a obra procura contrariar essa tendência, fixando memórias, factos e valores que não deveriam ser esquecidos.
Para Jorge Tolentino, a “amnésia” não é apenas um descuido, mas resultado de práticas políticas que privilegiam a rivalidade em detrimento de consensos fundamentais para o crescimento nacional. Como antídoto, defende “um esforço coletivo para encontrarmos um denominador comum, sobretudo em questões de soberania que devem estar acima da disputa política”.
O apresentador Carlos Reis destacou que o autor desafia os leitores “a juntarem-se ao combate pela memória”, afirmando que “as memórias podem não ser a história, mas sem elas, as dificuldades do historiador serão maiores”. A editora Porcelana, por sua vez, sublinha que a obra constitui “uma amiga interação com o esquecimento” e uma homenagem aos combatentes da liberdade da pátria.
Membro da Academia Cabo-Verdiana de Letras e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores, Jorge Tolentino é autor de várias obras, entre as quais Direitos Humanos ou uma certa saudade do futuro (1999), Cidadania e Liberdade – palavras que escrevi (2005) e Tempos de InCertezas (2016). Em O Arquipélago das Amnésias, reafirma a sua preocupação com a memória coletiva e com a construção de um futuro assente no reconhecimento do passado.
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