Terça-feira, 04 Novembro 2025

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José Maria Neves recebe Doutor Honoris Causa e apela ao “compromisso de uma geração”

O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, foi distinguido esta segunda-feira, 6, com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de Portugal, numa cerimónia solene que teve lugar no Auditório Agostinho da Silva, em Lisboa. A proposta da Reitoria daquela universidade reconhece o percurso notável de José Maria Neves ao longo das últimas décadas, destacando o seu contributo excecional no campo político, académico e cultural, bem como o seu empenho no reforço das relações de amizade e cooperação entre Cabo Verde e Portugal.

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Segundo a instituição, esta distinção “representa não só um reconhecimento de mérito, mas também um reforço dos laços de cooperação entre Portugal e Cabo Verde, no âmbito da educação, da cultura e do conhecimento”. A Universidade Lusófona sublinha ainda que a homenagem surge num momento simbólico, por coincidir com as comemorações dos 50 anos da Independência de Cabo Verde, o que confere ao ato uma dimensão histórica e afetiva especial.

A cerimónia contou com a presença de distintas figuras académicas e institucionais, entre as quais o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que assumiu o papel de padrinho académico do novo Doutor Honoris Causa. No seu discurso de agradecimento, intitulado “O Compromisso de uma Geração”, José Maria Neves recebeu a distinção “com humildade e plena consciência das responsabilidades éticas e institucionais que simbolicamente invoca”, sublinhando que nela “se não reflete apenas uma trajetória individual, mas sobretudo um compromisso coletivo com o serviço público, o pensamento crítico e a causa do bem comum”.

Agradecendo especialmente a Marcelo Rebelo de Sousa “pela generosidade das suas palavras e pela fidelidade à amizade fraterna que une os povos português e cabo-verdiano”, o Presidente cabo-verdiano afirmou: “Mais do que um galardão, esta distinção é um apelo: apelo a prosseguir um esforço que é, a um tempo, pessoal e coletivo — o esforço de pensar, agir e servir com audácia, liberdade de espírito e generosidade cívica.”

Três tarefas para a presente geração

Citando Jean-Paul Sartre, que escreveu que “cada geração deve, na relativa opacidade do seu tempo, descobrir a sua missão, cumpri-la ou traí-la”, José Maria Neves delineou três tarefas fundamentais para a presente geração, tanto no mundo como em Cabo Verde.

Primeiro, solucionar os grandes problemas do desenvolvimento humano e planetário — a pobreza, a desigualdade e a degradação ambiental — de modo a assegurar justiça social, dignidade e sustentabilidade. Segundo, revigorar a democracia, hoje fragilizada pelos extremismos, pela desinformação e pela erosão da confiança nas instituições. Terceiro, edificar futuros partilhados, fundados no diálogo entre gerações, territórios e culturas.

Democracia em tempos tempestuosos

Numa análise profunda do contexto global, o Presidente descreveu um “mundo tempestuoso, fragmentado e instável”, citando o Professor Carlos Lopes, que se refere ao “colapso da responsabilidade humanitária” num quadro em que “a disrupção é o sistema operativo. A tempestade não vem e vai. A tempestade veio para ficar.”

Sobre Cabo Verde, José Maria Neves reconheceu sinais de desgaste democrático: “menos confiança entre partidos, mais polarização, incapacidade de diálogo”, alertando que “o que está em causa é a confiança — esse cimento invisível que sustenta a democracia.”

A resposta, defendeu, passa por “reengenharia profunda das instituições, significativas mudanças na ação política e novas formas de formular e implementar políticas públicas”, citando Aristóteles: “o melhor governo é aquele em que cada um encontra o que necessita para viver feliz.”

“Um pacto de verdade”

Num momento mais pessoal, o Chefe de Estado cabo-verdiano recordou o seu percurso político: “No campo político, já joguei em todas as posições”, desde “apanha bolas” até Presidente da República, passando por deputado, presidente de câmara, líder partidário, ministro e primeiro-ministro, tendo ganho três eleições legislativas consecutivas com maioria absoluta.

“Tem havido um pacto de verdade, entre mim e o povo cabo-verdiano, nas ilhas e na diáspora, que tenho procurado honrar, com audácia, temperança, decência e amor a Cabo Verde”, afirmou, sublinhando que procura “no debate de ideias, a sabedoria que me falta para estar à altura das responsabilidades políticas.”

Cultura como eixo do desenvolvimento

José Maria Neves defendeu ainda que “uma governação verdadeiramente humanista deve reconhecer a cultura como eixo matricial do desenvolvimento e da democracia”, acrescentando: “Porque só um povo que pensa — poeticamente, filosoficamente, politicamente — pode edificar instituições legítimas, alargar o horizonte da liberdade e renovar, de forma contínua, o pacto coletivo que o sustenta.”

O programa da cerimónia incluiu o cortejo académico, momentos musicais e intervenções de destaque, nomeadamente do Magnífico Reitor, Professor Doutor José Bragança de Miranda, do Presidente da COFAC, Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio, e da Professora Doutora Isabel Babo, que apresentou a justificação da proposta de doutoramento.

Após o elogio ao novo Doutor pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, seguiu-se a atribuição solene do título e a alocução do Presidente José Maria Neves, encerrando o ato com um momento musical simbólico.

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