
José Maria Neves defendeu esta quinta-feira, 16, ao presidir o ato de abertura da XIII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, na cidade da Praia, que a literatura deve preservar “o mistério e a beleza que nenhuma máquina poderá traduzir”, alertando para os desafios que a inteligência artificial coloca à criação artística.
Na cerimónia de abertura do evento literário, que acontece até domingo, 18, na capital cabo-verdiana sob a égide da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a Câmara Municipal da Praia, o Presidente da República sublinhou que a literatura é “a mais sublime escola de liberdade” e tem uma “missão inadiável” face aos avanços tecnológicos.
Numa alusão ao 50º aniversário da independência de Cabo Verde, assinalada este ano, José Maria Neves frisou a importância da literatura na emancipação do povo cabo-verdiano. Citando nomes como Eugénio Tavares, Baltasar Lopes, João Vário, Germano Almeida e Armélio Vieira, o Presidente da República referiu que nas páginas desses autores cabo-verdianos “a consciência nacional se foi reconhecendo e afirmando”.
“Vivemos um tempo em que a criação artística e literária se vê confrontada com novas fronteiras. A inteligência artificial inaugura um horizonte simultaneamente fascinante e inquietante, em que o engenho humano parece competir com o próprio mistério da criação”, afirmou o chefe de Estado cabo-verdiano.
Ética e cultura na era digital
Alertando para os riscos da tecnologia sem orientação ética, José Maria Neves sublinhou que “a inteligência artificial não deve ser um sucedâneo da consciência, mas o reflexo da sua complexidade”. Para o chefe de Estado cabo-verdiano, “a técnica, por si só, é cega, necessita da luz da ética, da cultura e da sabedoria, para não se tornar instrumento da alienação”, defendeu, citando o poeta Alberto Caeiro: “Pensar incomoda como andar à chuva, quando o vento cresce e parece que chove mais.”
José Maria Neves considerou ainda que “escrever é um acto de insubmissão e de coragem”, sendo que “uma sociedade que ambiciona permanecer livre precisa de escritores que a questionem, de leitores que se deixem comover e de bibliotecas que guardem a memória do efémero”.
Daí que espera que o encontro seja “um hino à liberdade criadora e à diversidade”, recordando que “é a palavra que funda o ser” e que “a cultura permanece a mais nobre forma de resistência e o mais sólido alicerce da paz”.
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