
Dois especialistas da diáspora cabo-verdiana partilharam experiências bem-sucedidas de cooperação no setor da saúde durante o Painel III intitulada “estado-da-arte da diáspora, modelos e experiências bem-sucedidas de relação profícuo entre a diáspora, o governo e os profissionais de saúde em CV”. Miguel Correia, de Portugal, e Adriano Cabral, dos Estados Unidos, demonstraram como profissionais cabo-verdianos no exterior podem contribuir ativamente para a melhoria do Sistema Nacional de Saúde.
Miguel Correia, neurocirurgião português, filho de cabo-verdianos, apresentou o projeto de cooperação em neurocirurgia desenvolvido desde 2013 nos hospitais Batista de Sousa, no Mindelo. O especialista revelou que os custos anuais das evacuações médicas para Portugal rondam os 2 milhões de euros, atingindo 14 a 15 milhões em cinco anos. Mas, após o início das missões de neurocirurgia, baseadas em três pilares – semente, ponte e capacitação – conseguiram formar especialistas locais e reduzir significativamente as evacuações.
Paulo Ferreira, ortopedista de São Vicente, tornou-se autónomo em cirurgias complexas da coluna após formação em Portugal, e Stephanie Monteiro é hoje a primeira neuropediatra cabo-verdiana. “Há 10 anos, um doente com fratura cervical aguardava 6 meses para evacuação. Hoje, estas cirurgias são realizadas localmente em São Vicente”, destacou o neurocirurgião.
Correia alertou, contudo, para a necessidade de investimento contínuo em equipamentos e materiais cirúrgicos. “Cabo Verde não pode depender apenas de doações externas. É preciso um plano de aquisição sustentável”, defendeu, concluindo que “o médico na diáspora tem papel extremamente importante no acompanhamento dos doentes no exterior”.
Adriano Cabral, psicólogo que dirige uma clínica de saúde mental comunitária em Brockton, Massachusetts, apresentou a experiência da Associação Médica Cabo-Verdiana nos Estados Unidos, que reúne mais de 200 profissionais cabo-verdianos, incluindo professores universitários e especialistas em posições de destaque. “A última conferência reuniu profissionais de mais de 30 estados. Todos pagam as próprias passagens. É tudo feito pela amizade, por Cabo Verde”, revelou o especialista, sublinhando o espírito voluntário que move a organização.
Cabral enfatizou a importância da regulamentação e controlo de qualidade na prática médica, partilhando a experiência americana onde o Estado regula rigorosamente o exercício da profissão e protege os direitos dos pacientes através de leis como a HIPAA, que garante confidencialidade sob pena de prisão e suspensão de licença.
Na área de saúde mental, defendeu serviços comunitários próximos da população para reduzir o estigma e os custos hospitalares, alertando que em países pequenos muitas pessoas evitam procurar ajuda por receio de serem reconhecidas. “A Sociedade Médica Cabo-Verdiana já está num engajamento com o Estado de Cabo Verde e o Ministério da Saúde há 4 anos. Este é um modelo que pode ser implantado noutras áreas da economia”, concluiu Cabral.
Estas apresentações demonstraram que a diáspora possui conhecimento técnico, organização e vontade de contribuir para o desenvolvimento da saúde em Cabo Verde, necessitando apenas de canais estruturados de colaboração e investimento consistente.
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