
Um estudo pioneiro sobre doenças do movimento em Cabo Verde liderado pela investigadora Leida Tolentino revelou que a doença de Parkinson representa 79% dos casos identificados no arquipélago, e que há barreiras no acesso a medicamentos e tratamento. Os resultados desta investigação, feita pela Fundação Doenças do Movimento, serão apresentados amanhã, 24, na cidade da Praia, e na quinta-feira, 26, no Mindelo.
A investigação, que abrangeu todas as ilhas do arquipélago, exceto Maio e Brava, também identificou que, a seguir ao Parkinson, as doenças do movimento que mais afetam a população cabo-verdiana são tremor essencial (9%) e a doença de Huntington (8%). Os dados mostram também que há uma prevalência mais elevada entre homens com idade superior a 60 anos, embora 23% dos participantes tenham sido diagnosticados antes dos 50 anos.
O estudo é, no entanto, de cariz observacional e primário, ou seja, abrangeu doentes já diagnósticos, o que, reconhece a Doutora Leida Tolentino, levanta “a possibilidade de subdiagnóstico ou de subestimação de casos”. Na origem desta possível falha estará, entre outras causas, a metodologia aplicada neste estudo, que se baseou em grande parte na revisão de processos clínicos existentes.
“Constatamos muitas vezes serem inadequados, desatualizados, incompletos, duplicados”, explica a investigadora, que ainda indica que os serviços de neurologia estarem muito centralizados, na ilha de Santiago, em particular. “Temos cinco neurologistas e que exercem na Ilha de Santiago, embora deem consultas em outras regiões e outras ilhas, mas são pontuais, têm periodicidade específica e principalmente no privado”, relata Leida Tolentino, que lembra também que não existe no país nenhum especialista em doenças do movimento, o que configura ausência de serviços especializados.
O estudo destaca ainda que 51% dos participantes indicaram que a doença teve um impacto forte ou extremo na vida deles. “Isso manifestou-se não só em sintomas motores, mas também em sintomas não motores, como, por exemplo, o bem-estar emocional, muitos deles manifestaram muitos desafios em termos de ansiedade, falta de motivação, tristeza, desafios financeiros, entre outros”, afirma a investigadora principal.
Há no país os medicamentos que são normalmente receitados a quem padece de uma doença do movimento, mas 70% dos participantes no estudo mencionou dificuldades no acesso aos, apesar de 78% estarem medicados. “Esperemos que através destes resultados, que fornecem dados científicos concretos, as instituições governamentais e não governamentais possam dar respostas concretas”, declara Leida Tolentino, que avança ao Voz do Archipelago as principais recomendações do estudo.
“Que se promova o diagnóstico precoce, principalmente porque constatarmos um resultado surpreendente, que foi 23% dos participantes da nossa amostra foram diagnosticados com idade inferior a 50 anos”, diz Leida Tolentino, que também recomenda a formação de especialistas na área “para que possamos estar melhor equipados para diagnosticar e dar seguimento e tratamento”.
Por outro lado, é preciso efetivar a “descentralização dos serviços de neurologia, para um melhor acesso, acompanhamento e diagnóstico. E também, claro, a melhoria do acesso a medicamentos e terapias. Isso é fundamental, e algo que foi mencionado pela maioria dos participantes”.
Para ouvir a entrevista na íntegra, aceda aqui
Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados.