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Perante um público atento, o autor, professor e investigador, explicou que a sua maior motivação para escrever este livro foi preencher uma lacuna no cenário artístico e académico de Cabo Verde. “Detetei uma grande ausência de estudos sobre a dança, e do ponto de vista filosófico ainda menos”, diz, acrescentando que “neste livro, eu faço uma filosofia da dança contemporânea cabo-verdiana, tomando como caso de estudo o grupo Raiz di Polon”. 

A obra nasce de uma investigação feita com base em observação direta e pesquisa científica. “Eu vinha, assistia aos espetáculos, tirava notas, entrevistava os bailarinos e coreógrafos, e depois escrevia a partir do que observei, articulando com várias ideias filosóficas”, conta o autor. Foram analisadas, em detalhe, cinco peças encenadas pelo grupo, sobretudo aquelas que o autor acompanhou ao vivo.

Elter Carlos sublinha ainda a profunda relação entre filosofia e dança: “O corpo dançante é um corpo pensante. Não é apenas um mover do corpo qualquer. Há sempre uma intenção por trás: resgatar a história, a cultura, a identidade. Mesmo no passado, muitas danças foram proibidas, como o batuque e a tabanca, mas a dança persistiu como forma de resistência.”

Além de revelar a riqueza simbólica e histórica da dança cabo-verdiana, o livro também projeta caminhos para a sua valorização no presente e no futuro. “Eu acredito que, se continuarmos a apostar, vamos ter um futuro promissor nessas áreas da dança. Eu próprio encontro na filosofia da arte um caminho para dialogar com a dança, a música, a literatura, o cinema”, declara Elter Carlos. 

O livro, editado em Portugal pelo Movimento Internacional Lusófono, já foi apresentado em várias cidades portuguesas, entre elas Lisboa e Porto, e agora teve a sua estreia em Cabo Verde. Esta é a terceira obra individual do autor, depois de “Filosofia, Artes e Literatura” e “Filosofia da Educação em Paulo Freire”.

Para Elter Carlos, este volume é apenas o início: “Desejo dar continuidade a este trabalho com um segundo volume, aprofundando esta filosofia da dança cabo-verdiana.”

A apresentação foi conduzida pelo Professor Doutor Wlodzimierz Szymaniak, da Universidade Jean Piaget, e contou ainda com uma marcante performance do grupo Raiz di Polon, que materializou no palco a força estética e filosófica que a obra procura compreender e valorizar.

Mais do que um estudo académico, o livro “Raiz di Polon” revela-se como um tributo ao corpo, à memória e à identidade cabo-verdiana, e um convite a pensar a dança para além do espetáculo, como forma de pensamento e resistência cultural.

Nota da Redação: esta peça jornalística foi produzida pela estagiária Any Gomes.