Segunda-feira, 03 Novembro 2025

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Cabo Verde dividido entre apagões e cortes programados

Esta segunda-feira, 6, o país acordou entre a escuridão de um apagão total em São Vicente e os cortes programados que sufocam a ilha de Santiago há mais de um mês. O que começou como um problema técnico na central de Palmarejo transformou-se numa crise sistémica que levanta questões sobre a gestão, manutenção e até a segurança das infraestruturas energéticas nacionais.

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Na noite de domingo, por volta das 22h30, o Grupo 8 da central de Santiago sofreu uma avaria súbita. Não se trata de um equipamento qualquer: foi recentemente revisto pela Wartsila, uma das maiores fabricantes mundiais de motores, e ainda está dentro do período de garantia.

 A falha, segundo o primeiro diagnóstico técnico, deveu-se a parafusos desapertados na ligação do tubo à bomba, provocando uma fuga de combustível. Assim, na madrugada de segunda-feira, conforme o comunicado da EPEC, as equipas da empresa, técnicos do fabricante e consultores externos debruçaram-se sobre o problema.

Com apenas dois dos seis grupos geradores operacionais, Santiago vê-se obrigada a cortes programados que paralisam bairros inteiros, interrompem negócios e põem em causa serviços essenciais. O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças admitiu em declarações à Rádio de Cabo Verde, também ontem, que tais cortes bloqueiam a evolução da economia do país, daí que espera uma solução para breve. 

Ora, a EPEC já informou que a situação só ficará estabilizada no final do mês, quando chegarem os grupos geradores móveis alugados do estrangeiro, previstos para 28 de outubro.

O apagão em São Vicente

Foi ao cair da tarde desta segunda-feira que a crise atingiu proporções alarmantes. Pelas 18h30, São Vicente mergulhou num apagão total. Sem aviso, sem explicação imediata, toda a ilha ficou às escuras. Hospitais, empresas, serviços públicos, residências, nada escapou.

A população, já nervosa com as notícias de Santiago, viu-se subitamente privada de luz, comunicações e respostas.  O blackout de São Vicente ocorreu horas depois da avaria em Santiago, precisamente quando estavam previstos reforços de geradores que poderiam aliviar a pressão sobre o sistema nacional.

Fontes técnicas ouvidas pelo jornal O País, admitem estar perante um “padrão preocupante de falhas sincronizadas”. “Estamos a falar de avarias que acontecem sempre nos piores momentos possíveis. Equipamentos revistos que falham de forma inexplicável, cortes que ocorrem quando se preparam soluções. É difícil continuar a acreditar em mero azar técnico”, confessa uma fonte com décadas de experiência no setor energético cabo-verdiano.

A resposta do Governo face à situação

Perante a escalada da crise, o Governo movimentou-se. Na quinta-feira, 2, quatro dias antes do apagão de São Vicente, autorizou um aval de 600 milhões de escudos à EPEC através da Resolução n.º 100/2025. O montante, contraído junto do Banco Cabo-verdiano de Negócios (BCN), destina-se oficialmente à manutenção das centrais elétricas e ao reforço da tesouraria da empresa.

O Estado, enquanto acionista, justifica o apoio invocando o papel fundamental do setor energético no desenvolvimento económico. 

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