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“A mulher não é obrigada a amamentar, não tem nenhuma lei que determina isso, mas ela deve querer, deve decidir. É um ato de amor, de solidariedade, que envolve emoção, carinho, afeto”, declarou Ester Lopes. Na ocasião, a responsável criticou os mitos que desencorajam as mulheres a amamentar, especialmente entre as mães jovens. “Tem um mito que diz que se a mulher amamentar, os seios ficam flácidos e caídos, mas isso pode acontecer em qualquer fase da vida da mulher, é preciso ter consciência disso”, esclareceu.

Ester Lopes afirma que amamentar não é uma questão de estética, é sobre amor, segurança alimentar de uma criança recém-nascida. Alertou ainda que, introduzir qualquer outro alimento que não seja leite materno antes dos seis meses de vida do bebé, deixa a criança sujeita a infeções, alergias e patologias que podem afetá-la pelo resto da vida.

Aleitamento como responsabilidade coletiva

“O sucesso do aleitamento materno precisa do apoio dos familiares, da comunidade, da sociedade, dos empregadores. Deve haver uma rede de apoio à mulher que amamenta”, defendeu a responsável do Banco de Leite.

Ester Lopes destacou que “não é uma responsabilidade apenas da mãe, ou só da família que está a amamentar. Todos nós temos esse papel importante em relação ao aleitamento materno”. A especialista citou casos específicos de jovens mães estudantes que, no pós-parto, não beneficiam da licença de maternidade para não perder o ano letivo, privando-se de amamentar os filhos. Como solução, sugere a extração do leite materno para conservação.

Ester Lopes explicou ainda que o aleitamento materno é vivo e dinâmico e modifica-se conforme a necessidade da criança. Para além dos benefícios para a saúde, Ester Lopes salientou as vantagens ambientais do aleitamento materno. “Quando se promove o aleitamento materno, tem menos desperdício para a natureza. Quando se usa os utensílios dos leites artificiais, depois vai descartá-los, é o nosso planeta que fica afetado”.

Licenças de maternidade e paternidade e cuidados especializados no pós-parto

Ester Lopes elogiou o aumento da licença de maternidade de 45 para 90 dias, que se alinham com as recomendações da Organização Mundial de Saúde para aleitamento materno exclusivo até aos seis meses. Mas, a especialista alertou para a vulnerabilidade das mulheres no pós-parto, bem como a necessidade de uma rede de apoio nesse momento tão importante da mulher e da criança.

“A mulher no pós-parto está numa situação frágil, em situação debilitada. Durante os nove meses de gravidez e o pós-parto, a mulher sofre muita transformação no seu corpo, ela precisa de repouso, de uma alimentação cuidada, de carinho, apoio emocional”, enfatiza.

Sobre a licença de paternidade, Ester Lopes foi clara: “a licença de paternidade não é para aproveitar os 10 dias concedidos pela lei para fazer paródia, para comemorar o nascimento do filho, mas sim para dar suporte à mulher que, nesse período, precisa de apoio”. A especialista vincou que, após o nascimento, o foco de todo o cuidado é voltado para a criança, e a mulher é “esquecida”, uma situação que pode levar à depressão pós-parto.

Conforme explica, o Banco de Leite mantém um stock satisfatório e este ano já ultrapassou a metade da quantidade recolhida no ano anterior. Como primeira unidade do género em África, integra a rede global de bancos de leite materno e serve de referência na região. Destacou também que o serviço não se limita à recolha de doações, funciona como “um cantinho das mães”, onde as mulheres recebem orientações para superar dificuldades durante a amamentação.