
Ana Lisboa é uma mãe atípica. A sua experiência de maternidade vai além do convencional. Convidada a partilhar a sua experiência hoje, 13, durante o III Seminário sobre Saúde Mental Materna, que decorreu no Campus da Universidade de Cabo Verde, na cidade da Praia, fruto de uma parceria entre a universidade pública e a campanha Maio Furta-Cor Cabo Verde, confessou que a jornada tem sido difícil porque “as respostas que o Estado tem dado ainda são insuficientes”.
“A maternidade em si já tem o seu peso, mas a maternidade atípica vem com um peso redobrado”, afirma Ana Lisboa. É que “coisas que para uma maternidade dita normal são simples para nós, mães atípicas, exigem adaptações constantes. Desde o sono até às rotinas diárias, é preciso estar sempre a pensar duas vezes sobre o que fazer e como fazer.”
Ademais, diz Ana Lisboa, “as respostas que o Estado são quase nulas. Vivemos num país que não tem muita capacidade, mas onde, ao mesmo tempo, não é prioritário ainda. Tem de ser mais falado, tem de se trazer mais isso à tona para se começar a movimentar e a fazer mais coisas”.
Mas o que é ser uma mãe atípica? O conceito de “maternidade atípica” abrange experiências que vão além da ideia convencional de maternidade, incluindo mães de crianças com necessidades específicas, mães com desafios próprios de saúde mental ou física e aquelas que vivem em contextos familiares e sociais complexos.
A docente universitária Denise Cardoso, uma das oradoras do seminário, cujo tema foi “Maternidade Atípica: As fases ocultas da maternidade”, frisou na sua comunicação que “Independentemente de a maternidade ser atípica ou não, toda a mulher deveria ter um cuidado especial no pós-parto, porque é a fase de mais alterações, ao nível físico e hormonal, e que muitas vezes leva a um estado de vulnerabilidade e exaustão”, acrescentou.
No caso da maternidade atípica, defendeu Denise Cardoso, a situação é ainda mais desafiante porque a mãe enfrenta “dificuldades agravadas pela falta de condições ideais para lidar com essas situações em Cabo Verde”. Daí ter sido muito importante a realização do seminário, já que o objetivo da organização era “dar a conhecer o que é a maternidade atípica, o que são os filhos neurodivergentes, que desafios enfrentam e como solucionar problemas específicos que possam surgir ao longo deste processo de maternidade diferente”, muitas vezes marcado por isolamento, sobrecarga emocional e estigmatização.
O evento, organizado pela Faculdade de Ciências e Tecnologias da Uni-CV, incluiu uma mesa-redonda sobre o direito à saúde mental materna, com contribuições de especialistas em psicologia, direito e testemunhos de vida. Além disso, foram realizados dois painéis temáticos: “Fases Ocultas da Maternidade: Mães Atípicas”, com intervenções de profissionais da enfermagem, psiquiatria e experiências maternas; e “Fases Ocultas da Maternidade: Filhos Neurodivergentes”, com a participação de especialistas em neuropsicologia, fonoaudiologia e psicologia.
E ficou claro que há uma necessidade urgente de se promover o acesso a cuidados de saúde mental materna em Cabo Verde com a criação de redes de apoio que possam minimizar o isolamento e a sobrecarga enfrentada por estas mães. Iniciativas como esta ajudam a romper o silêncio e o estigma que ainda cercam as questões de saúde mental no contexto materno, promovendo uma sociedade mais inclusiva e empática.
Nota da Redação
Esta peça jornalística foi produzida com a colaboração da estagiária Any Gomes.
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