
Artistas, autores e profissionais do setor criativo participaram nesta terça-feira, 8, no Palácio da Cultura Ildo Lobo, numa reflexão sobre os direitos autorais na era digital. O encontro, enquadrado na 11ª edição do Atlantic Music Expo (AME), os profissionais do setor alertaram para a urgência de Cabo Verde criar estruturas para preservar trabalhos musicais e os seus criadores.
Durante a conversa aberta, o luso-cabo-verdiano Dino D’Santiago defendeu a importância de tornar a propriedade intelectual mais acessível. Usando uma linguagem simples, o cantor comparou-a com um terreno ou apartamento, para facilitar a compreensão deste direito muitas vezes negligenciado.
“Se a nossa música fosse um terreno ou um apartamento, muitos de nós estaríamos a dormir na rua por não conhecermos os nossos direitos”, afirmou Dino D’Santiago.
O músico alertou ainda para o desconhecimento das ferramentas de proteção e criticou o fato de jovens artistas cabo-verdianos não conseguirem registrar suas músicas no YouTube a partir do país. “Acabam por usar países como a Turquia para receberem os direitos, porque Cabo Verde não tem dimensão suficiente para que plataformas como o YouTube criem aqui uma estrutura.”
Ao longo da sessão, os oradores destacaram a necessidade urgente de se cuidar, proteger e valorizar a propriedade intelectual, sublinhando que, num mundo cada vez mais digital, o reconhecimento legal das criações artísticas é essencial para garantir a sustentabilidade dos seus autores.
Vindo de Portugal, Miguel Caretas, diretor de Gestão de Produtores de Portugal, do Audio Gesto de Portugal, afirmou que os autores devem estar atentos e ser os primeiros responsáveis por cuidar da sua propriedade, o que significa registá-la e declarar os repertórios junto às várias entidades que gerenciam os direitos autorais.
Miguel Caretas salientou ainda que a inteligência artificial pode ser uma ferramenta extraordinária de apoio à criação, quando utilizada de forma correta.
“A inteligência artificial pode ser uma ferramenta incrível para a criação, mas também tem o potencial de ser prejudicial. Modelos generativos pegam nas obras de autores humanos, transformam-nas e recriam-nas, consumindo a cultura feita por artistas e devolvendo um resultado sem direitos, que acaba competindo com esses mesmos criadores.”
Nota da Redação
Este trabalho jornalístico foi produzido com a colaboração da estagiária Any Gomes.
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