“O teatro sempre me fascinou pelo encontro entre corpo, voz e ritmo. Escrever em versos permitiu-me aceder a uma musicalidade ancestral, mais próxima da oralidade cabo-verdiana. Senti que esta história exigia palco, ritmo e corpo, e que precisa ser escutada tanto quanto lida”.
É assim que Eurydice, pseudónimo literário da investigadora e professora universitária Eurídice Monteiro, explica a escolha do género literário de “Pai di fidju ku mudjeris di txunbu”, obra que conta a história de três mulheres que refletem sobre a sua condição de vida.
A opção por uma escrita bilingue – português e crioulo – também é consciente e estratégia. É que “o crioulo é a minha língua afetiva e fundacional. É uma língua de resistência, memória e identidade. Usá-la é um gesto humano e estético. É afirmar que a nossa fala, com toda a sua complexidade, merece existir plenamente na literatura e no mundo”, declara Eurydice.
A escritora, sem revelar demasiado da história, ainda conta que a peça, que aborda temas como fragilidade e coragem, herança e reinvenção, convida a pensar sobre força, resiliência e identidade. “Interessa-me sobretudo explorar as formas silenciosas de poder, o que se transmite entre gerações, o que nos molda, o que nos sustém”, confessa Eurydice.
Ao inaugurar a entrada de Eurydice na dramaturgia, o livro que será revelado mais logo ao público vai além de apenas uma nova edição. Diz a autora que cada livro a marca de forma distinta, “mas há aqueles que funcionam como marcos fundadores” e “marcantes são os que me desafiaram a reinventar a minha voz ou a aprofundar territórios temáticos que ainda não dominava”.
O ato de lançamento está agendado para as 18 horas desta sexta-feira, 4, no Auditório Interatlântico, em Chã de Areia.
