Com uma programação que se estende ao longo do ano, o festival aposta em residências artísticas, oficinas, incubadoras criativas e espetáculos descentralizados, que envolve comunidades periféricas, escolas e grupos locais. Além de fortalecer a formação de jovens criadores, Kontornu abraça a diversidade de expressões urbanas, como o hip hop, o afro house e o breakdance, rompendo com hierarquias tradicionais entre o erudito e o popular.
Programa do festival Kontornu
A terceira edição do Festival Kontornu terá início no dia 3 de maio, no Auditório Sema Lopi, em Santa Cruz. A partir das 17h30, o público poderá assistir às atuações dos bailarinos Malvin Monteiro, vindo de Espanha, e Dinis, de Moçambique.
No sábado, 4 de maio, às 16h30, será promovido um workshop de dança na praia de Kebra Kanela, na cidade da Praia, com a participação dos artistas Mano Preto, Anna Banasik, Michal Góral, Yana Reutova e Clara da Costa.
No dia 5, às 10horas, acontece a abertura da exposição “Konturnu” na Galeria Tutu Sousa, também na Praia. Neste mesmo dia, a bailarina Rose Gentile apresenta uma performance no bairro Terra Branca. Simultaneamente, nas ilhas do Sal, Boa Vista e Fogo, arranca a Mostra Incubadoras Konturnu, que reúne trabalhos desenvolvidos a partir das Bolsas de Apoio à Criação Artística oferecidas pelo festival.
Entre os dias 6 e 9 de maio, a programação prossegue com várias sessões de dança em espaços como o Auditório Nacional, o Centro Cultural Português, a Universidade de Cabo Verde, a Pracinha da Escola Grande e o Instituto Guimarães Rosa, todos na cidade da Praia. O encerramento das atividades está previsto para o dia 10 de maio, no município do Tarrafal de Santiago.
O futuro da arte contemporânea cabo-verdiana
Com a sua dimensão internacional, o Kontornu 3 pretende ainda projetar talentos locais no circuito global de artes performativas, afirmando Cabo Verde como plataforma de diálogo entre África, Europa e América Latina. No horizonte para 2030, o objetivo é garantir a continuidade do festival através de uma estrutura sólida, formar novos públicos e transformar a vivência artística num direito pleno e quotidiano para os cabo-verdianos.
A escolha do número três como marca simbólica desta edição representa a criação, partilha e transformação, valores que o festival deseja consolidar a longo prazo. “O festival precisa estar sempre a questionar-se”, reforça Djam Neguin, destacando que o Kontornu se constrói a partir da escuta ativa das comunidades e da prática viva da dança contemporânea em Cabo Verde.
Nascido em 2016, o Kontornu parte da valorização da dança como ferramenta de reconfiguração identitária e aposta na fusão entre o Batuku, expressão tradicional de resistência, e a dança contemporânea, que afirmam a continuidade e a reinvenção da cultura cabo-verdiana. Segundo o artista e curador Djam Neguin, responsável pelo festival, “a ambição é formar uma plateia crítica e espontânea”, num contexto onde o acesso à cultura ainda é centralizado e as artes performativas carecem de políticas públicas e investimentos consistentes.
Criar no limite: arte e resistência
Apesar da ambição e da relevância cultural do Festival Kontornu, a edição de 2025 enfrenta grandes desafios financeiros. Conforme explicou Djam Neguin, o festival está a ser realizado de forma praticamente voluntária, com poucos recursos e um orçamento muito aquém do que havia sido projetado. “O fraco envolvimento das empresas privadas e das instituições públicas deixa-nos muito tristes e desamparados”, lamenta.
Para o curador, a falta de apoio contrasta com o potencial já demonstrado pela iniciativa. “Acreditamos que esta é uma iniciativa que, pelo que já conseguiu mobilizar sem esses recursos e com muito trabalho árduo, poderia sim ser uma das grandes marcas culturais, designadamente, na promoção turística e cultural, intercâmbios e visibilidade do país”, acrescentou.
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