Cabo Verde Investors Club, empresa de financiamento de startups, tem lançamento agendado para quinta-feira, 17.
Em entrevista ao Voz do Archipelago, o presidente do Conselho de Administração do Cabo Verde Investors Club, Rui Levy, fala sobre os propósitos e os plano desta empresa inédita em solo cabo-verdiano, que será apresentado ao público nesta quinta-feira, 17, no TechPark, na cidade da Praia, prometendo aumentar o acesso ao financiamento às startups cabo-verdianas, sobretudo as que sejam inovadoras e apresentem potencial para gerar empregos de qualidade.
Por: Renibly Monteiro
Voz do Archipelago (VA): A Cabo Verde Investors Club SGPS (CVIC) é uma instituição que se dedica ao apoio e financiamento de startups. Como surgiu a ideia de criar uma instituição deste tipo?
Rui Levy: A Cabo Verde Investors Club é uma sociedade gestora de participações sociais, ou seja, somos uma empresa privada de investimento anjo, que se dedica ao investimento de novas ideias e novas ideias inovadoras. O que significa que a questão do financiamento é pelo investimento que nós fazemos. Nós compramos parte do capital, tornamo-nos sócios, e com isso, trazemos o capital, trazemos o know-how, e o network. Trazemos um conjunto de coisas que são importantes quando estamos a falar de projetos novos, que estão a arrancar, de jovens que não conhecem tão bem o ecossistema, e na qual nós podemos trazer esses três componentes. A ideia é investirmos em startups que precisam desse capital inicial e possamos tirar a rentabilidade para continuar a investir e também ganharmos dinheiro com o nosso investimento. Por isso, startups é o ideal.
Por que escolhera starups, e não outro tipo de empresa?
Outro tipo de empresa já está provavelmente preparado para ir buscar o crédito bancário, para ir buscar financiamento. As startups têm essa particularidade de não terem ainda as garantias necessárias, o capital de desenvolvimento necessário, e precisam de formas mais simples e diretas de confiança na qual possam ir buscar o capital que precisam para o seu empreendimento.
Por isso, startups é o ideal. Não estamos interessados em ideias de negócios, o nosso foco é mesmo startups, ou seja, empresas já criadas, que estão no seu início, que tenham um plano de negócios e que tenham já, provavelmente, clientela para nós podermos ter noção do que é o potencial da empresa.
Provavelmente ela precisa de capital para marketing, ou de capital para desenvolvimento de software, ou para equipamentos. Conforme a situação, nós podemos entrar de sócios, isso é preciso ficar muito claro, e depois ajudamos no desenvolvimento para que quando nós sairmos (porque não é a nossa intenção ficar para sempre na empresa), possamos ter uma mais-valia com a própria valorização daquilo que a empresa teve.
VA: A CVIC vai proporcionar aos empreendedores locais acesso a capital de investimento. Onde irão buscar esse capital, aos acionistas, parceiros vossos?
Como o próprio nome diz, Sociedade Estrutura de Participações Sociais, e que nós utilizamos o nosso capital social, ou seja, o que os acionistas colocaram à disposição para ser investido.
VA: Qual é o montante mínimo e máximo que pretendem investir por startup?
De acordo com a nossa política de investimento, o montante mínimo é de 500 contos, e o máximo é de 5 mil contos por investimento.
VA: A CVIC vai também prestar mentoria especializada. Que tipo (s) de mentoria?
Aí temos duas opções. Quando fazemos o investimento, tornamo-nos associados, mas a empresa tem que ser acompanhada por uma incubadora que nós já estamos no processo de contratação. Ou seja, essa incubadora irá fazer a mentoria, o acompanhamento, e a assistência técnica para assegurar que o nosso investimento é bem aplicado e que a empresa de fato desenvolve.
Temos também outro tipo de mentoria que são os concelheiros. Que poderá ser uma pessoa voluntária, que tem conhecimento, tem know-how, e está interessado em fazer parte de um projeto inovador e dar de si, enquanto pessoa já tem muita experiência e que quer continuar a dar o contributo para a sociedade.
VA: A CVIC pretende apoiar projetos inovadores nacionais. Do vosso ponto de vista, o que é um projeto inovador?
Um projeto que acrescenta algo, que faça alguma coisa diferente, e que acrescente valor. Que esteja a inovar. Não tem que inventar, mas inovar sim. A inovação é importante porque precisamos de startups que tenham uma taxa de retorno alta e rápida. E só com inovação é que isso é possível. Por isso privilegiamos a questão da inovação enquanto um dos principais focos de escolha.
O outro é a questão do mercado, ou seja, que não seja só uma empresa para Cabo Verde. Nós sabemos que há uma limitação do mercado, mas, pensar em África é também um dos nossos desígnios.
VA: O Estado/Governo financia startups. Qual será o vosso diferencial?
O governo normalmente financia, mas não se torna sócio das empresas. Nós temos essa diferença, para além de entrarmos com o capital, tornamo-nos sócios. E, a partir daí, a empresa ganha um sócio a nível da gestão, do conhecimento, e do network, quer para fornecedores, para clientes, ou para parceiros. E uma empresa com uma intervenção nossa, eu acredito que conseguirá depois alavancar em termos de futuros empréstimos ou futuras participações de outros parceiros.
VA: Vão lançar o vosso website durante o evento. Que funcionalidades terá esta plataforma e a quem é dirigida?
É dirigida aos investidores. Pessoas como nós, acionistas, que pretendem também investir e que procuram uma empresa ou um veículo para fazer o seu investimento, e depois nós tentarmos trazer mais retorno para esse investimento apostando em startups. Ou seja, há muitas pessoas, principalmente na diáspora, que querem investir, querem contribuir, mas não têm tempo nem disponibilidade para acompanhar as empresas. Nós podemos fazer isso.
É também um canal para os empreendedores, para poderem perceber como é que podem submeter os seus projetos, para assim conhecerem quais as áreas e quais os setores que nós queremos investir e como é que nós podemos investir nas empresas. É também para os conselheiros, aquelas pessoas que podem estar interessadas em dar algum tempo, algumas horas, para seguir as empresas e também para os parceiros, de forma a terem informação, bem como verem o seu trabalho e terem o nosso reconhecimento enquanto as parcerias. É um canal que vai permitir a submissão online de candidaturas para conselheiros e também de candidaturas de projetos para o nosso investimento.
VA: A escolha do TechPark para local do lançamento da CVIC não foi por acaso, não é? Foi uma decisão estratégica?
Quisemos mesmo fazer um TechPark por tudo o que simboliza a nível da inovação, da digitalização e do ecossistema do empreendedorismo. Por isso faz todo fazermos o lançamento da Cabo Verde Investors Club no TechPark.
VA: Vão lançar também a “Primeira Chamada de Startups para Investimento”. O que é isso? Como funcionará este processo?
É o período que nós vamos abrir para receber candidaturas. Nós vamos ter uma chamada, para o período julho a agosto, para que todos os empreendedores possam ter a oportunidade de se candidatar. Então vai haver essa chamada, todos poderão se candidatar durante esse período, e depois a nossa Comissão de Investimento vai avaliar os projetos, vai dar a sua opinião e o seu avale para a empresa investir, e depois o Conselho de Administração irá colocar em prática os restantes processos para o investimento acontecer.
Porque depois de termos o parceiro positivo da Comissão de Investimento, é preciso verificar que, de fato, as informações que nos mandaram são verdadeiras. Que não há dívidas, não há outras questões que possam ser prejudiciais ao negócio. Uma vez verificado isso, podemos fazer o investimento e depois traçar um plano para o desenvolvimento da empresa.
VA: Em termos de economia nacional, que sectores considera mais promissores para investimento no país?
Nós achamos que há um potencial muito forte na área da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), penso que é uma área privilegiada que permite um retorno rápido, mas é uma área de risco também. Às vezes as ideias mudam, mas é uma área Cabo Verde tem feito um caminho muito interessante. No que se refere a infraestruturas, capacitação de jovens, atração de investidores e especialistas estrangeiros na área. É um produto que não tem limites, porque através da internet podemos chegar a qualquer lado, por isso é uma área que privilegiamos. Há outras áreas, talvez mais de nicho, como o agronegócio, como as pescas, que poderão, com determinados produtos, ter um interesse também para o nosso continente.
Porque essa parte do mercado do continente africano é muito importante para a nossa decisão de investimento. Consideramos já na segunda chamada, aceitarmos propostas da diáspora no continente.
VA: O início de toda caminhada tem os seus desafios, quais são os principais desafios que esperam enfrentar, tendo em conta o mercado de investimento e de trabalho em Cabo Verde, principalmente na cidade da Praia?
Eu acredito o investimento em startups tem sempre riscos. Porque depende muito das pessoas, e esse é um dos critérios que nós vamos analisar muito bem, principalmente, saber quem está por trás da startup, quem é o promotor.
E é uma área nova de trabalho, na qual já temos alguma experiência, porque a maioria de nós são investidores anjos, ou seja, a nível individual e pessoal, nós temos feito alguns investimentos em empresas para ajudá-las a deslocar e a desenvolver, por isso já temos esse know-how. Vamos tentamos reduzir os riscos com a contratação de uma incubadora que já tem muita experiência no mercado. E vamos tentar minimizar os riscos com um acompanhamento muito de perto, mensal e com relatórios trimestrais, para acompanhamos muito de perto a saúde da empresa. Há riscos sim, mas nós já estamos a trabalhar para identificar as medidas para tentar mitigar esses riscos e reduzi-los.
VA: Que impacto esperam ter na economia cabo-verdiana nos próximos anos, e como pretendem criar uma comunidade sólida de investidores?
Vamos ter caso de sucesso? Vamos tentar fazer apostas muito sérias, muito seguras, e que permitam ter um retorno, porque a nível de opções de poupança e de investimento, não há grandes opções em Cabo Verde. Se nós conseguimos ter uma opção de investimento que consiga trazer um retorno interessante, eu acredito que isso poderá, mesmo do ponto de vista do negócio, atrair mais investidores.
E depois temos a componente quase social, que é também ajudar a promover novos negócios, que vai trazer novos empregos, que vai trazer mais produtividade, mais empresas para a nossa economia. Por isso, essas duas componentes são importantes, mas, claro, temos que ter rentabilidade. Caso contrário, a empresa não irá singrar e não vamos conseguir atrair mais investidores.
VA: Que mensagem gostaria de deixar aos empreendedores cabo-verdianos?
Estamos a chegar e que estamos desejosos de os conhecer e de conhecer os seus projetos, com mente aberta, porque nós todos somos empreendedores também. Já passámos por onde eles estão a passar e agora queremos-lhes ajudar a deslocar, a levantar e a progredir.
Oiça a entrevista aqui
Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados.