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A escritora, atriz e educadora brasileira Renálide Carvalho apresentou no fim de semana, na cidade de Assomada, um conjunto das suas obras, dando continuidade ao périplo que já a levou a Praia, Bissau, Lisboa, Madrid e várias cidades do Brasil. Em conversa com o Voz do Arquipélago, a autora conta a experiência de viver em Cabo Verde, onde se encontra para desenvolver parte do seu doutoramento.
Por: Any Gomes (estagiária)
Como surgiu a paixão pela escrita?
Desde criança, no ensino fundamental, sempre gostei de ler. A minha mãe alimentava isso, dava-me livros e incentivava-me muito. Mas foi um professor de literatura que despertou verdadeiramente o meu fascínio pela palavra e pela poesia. Ele ensinava de uma forma instigante, e a partir daí tornei-me uma leitora assídua e comecei a escrever.
Que autores ou obras a influenciaram?
Durante muito tempo fui muito influenciada pelos modernistas: Oswald de Andrade, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Cruz e Sousa, Paulo Leminski. Também lia Machado de Assis e Lima Barreto. Depois, como ativista dos movimentos sociais negros e de mulheres negras, descobri outras vozes fundamentais: Conceição Evaristo, Eliane Alves Cruz, Sueli Carneiro, Angela Davis, bell hooks… Hoje procuro cada vez mais referências fora do eurocentrismo: literatura africana, indígena, diaspórica contemporânea, que representa as nossas vozes e identidades plurais.
Pode falar-nos dos seus dois livros de poemas?
Negros Riscos é uma obra com uma dupla leitura: fala dos riscos que atravessam a vida de pessoas negras — o racismo, a violência, a discriminação — mas também do risco de se expor, de escrever, de denunciar e afirmar a própria voz. São poemas que escrevo desde 2007 e publiquei em 2024. Já Meus Erros, Meus Eros faz uma brincadeira com a palavra “erros” e “Eros”, explorando o erotismo e os desejos de mulheres que foram silenciadas.
E o livro infantojuvenil, O Espelho de Dandara?
É inspirado em Dandara dos Palmares, heroína negra do Brasil. Conta a história de uma menina negra que, ao sofrer racismo na escola, tenta embranquecer-se, mas com a ajuda de uma professora descobre a força da sua cultura, da sua ancestralidade. É uma história de empoderamento, baseada na filosofia africana Sankofa: regressar às raízes para entender o presente e projetar o futuro.
O que a motivou a escrever também para crianças?
Porque acredito que é desde cedo que devemos fortalecer a autoestima, o orgulho e o pertencimento nas crianças negras, para que cresçam conscientes e seguras.
Como foi o processo criativo dos livros?
Os três livros foram publicados no mesmo ano porque fui selecionada em editais, mas foram escritos em épocas diferentes. Negros Riscos têm poemas antigos, enquanto O Espelho de Dandara e Meus Erros, Meus Eros foram concebidos mais ou menos na mesma altura.
Como tem sido a receção das suas obras?
Em todos os lugares onde apresentei senti-me muito acolhida. Há sempre uma boa interação com o público, os lançamentos são bem frequentados, as resenhas feitas pelos apresentadores valorizam a obra e os livros têm tido grande procura — sobretudo por educadores, que os levam para as escolas. Cabo Verde e Guiné-Bissau tocaram-me especialmente, pela juventude interessada em literatura, sedenta de leitura.
Como se sente por trazer agora a apresentação para Assomada?
Muito feliz e honrada por poder partilhar a minha obra com mais pessoas e conhecer ainda mais esta juventude que tanto valoriza a literatura.
Pretende continuar a escrever para públicos diferentes?
Nunca estarei fechada a um género. Quero ousar sempre, seja poesia, romance, conto ou literatura para crianças.
Que conselhos deixa aos jovens escritores cabo-verdianos?
Que acreditem em si, tirem os sonhos da gaveta e partilhem as suas palavras com o mundo. E também apelo às autoridades para que invistam mais na literatura: mais editais, mais bibliotecas públicas, um plano nacional do livro e leitura, porque Cabo Verde tem excelentes escritores e muito potencial.
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