Quinta-feira, 03 Julho 2025

Grande Entrevista

Ivan Almeida: “Temos que profissionalizar o basquetebol”

Ivan Almeida: “Temos que profissionalizar o basquetebol”

Cabo Verde vai disputar o Afrobasket, agendado para 12 a 24 de agosto, em Angola. Antes da partida da seleção nacional para o estágio que começa amanhã, 2, em Paris, França, conversamos com Ivan Almeida, uma das referências do combinado crioulo, que enfatizou a importância de uma boa preparação, recursos financeiros e infraestruturas de qualidade para os Tubarões Azuis subirem alto no pódio africano e mundial.

Por: Teresa Sofia Fortes

Cabo Verde integra o Grupo A da 31ª edição do Afrobasket, junto com Costa do Marfim, República Democrática do Congo e Ruanda. É um grupo difícil?

Os grupos do Afrobasket são sempre fortes, as seleções não estão lá por acaso, e não há equipas fracas nas competições africanas. Para nós [Cabo Verde], o objetivo é o mesmo de sempre: dar luta e ganhar o máximo de jogos na fase de grupos, assim como fizemos em 2021, quando ficámos no quarto lugar. Tratamos cada jogo como se fosse o último, só assim conseguimos ir longe. Este ano temos equipa para tentar ser campeão de África, mas é fundamental também fazermos uma boa preparação e, dentro do campo, lutarmos unidos e com o mesmo objetivo.

O que significa uma boa preparação?

Significa começar os treinos um mês antes, pelo menos, fazer mais do que quatro jogos amistosos de preparação, treinar em boas condições e bons lugares. Infelizmente, o Gimno Desportivo não oferece condições neste momento, daí que temos que ver onde vamos treinar e fazer a nossa preparação. Para que tenhamos boas hipóteses de ganhar, temos que estar o mais bem preparados possível e nas melhores condições, mental e fisicamente.

A Federação Cabo-Verdiana de Futebol consegue “recrutar” jogadores descendentes de cabo-verdiano, mas para a FCBB isso ainda é um problema. Porquê?

Muitos basquetebolistas descendentes de ascendência cabo-verdiano só pedem passaporte cabo-verdiano depois dos 18 anos, mas a Federação Internacional de Basquetebol (FIBA) diz que quem toma o passaporte depois dos 16 anos de idade é considerado naturalizado, daí a dificuldade de Cabo Verde conseguir esses jogadores. Mas, a nível nacional, já provámos também que temos qualidade. Podia ser melhor, é claro. Tunísia e Angola, por exemplo, têm campeonatos profissionais. Infelizmente, em Cabo Verde temos um campeonato amador. Temos que profissionalizar o nosso basquetebol se queremos ter jogadores com mais qualidade. Dou o exemplo do Sudão do Sul, que tem um presidente que foi jogador da NBA e que põe muito dinheiro dentro. Os jogadores do Sudão do Sul estão todos na diáspora, vivendo nos Estados Unidos da América [EUA].

É a força do dinheiro?

Sim. Devíamos também formar os nossos jogadores nas escolas secundárias e universidades norte-americanas e acompanhá-los para terem uma conexão permanente com a terra natal para que não sejam considerados naturalizados. O nível do basquetebol nos EUA é bastante elevado, quando comparado com Cabo Verde, e se também elevarmos o nível do basquetebol em Cabo Verde, chegaremos a um equilíbrio entre jogadores nascidos no país e na diáspora, que poderão todos ajudar a seleção nacional.

Cabo Verde vai também disputar uma vaga para o Mundial de Basquetebol Qatar 2027. Como avalia o grupo de qualificação (A), que inclui Sudão do Sul, Líbia e Camarões?

No Afrobasket jogámos a qualificação numa só “janela”, ou seja, há a fase de grupos e, a seguir, os playoff, mas a qualificação para o Mundial tem várias janelas num período de ano e meio/dois anos. Portanto, é um objetivo a longo prazo, e consegue-se gerir melhor os jogos, mas é, na mesma, muito difícil. Na qualificação para o Mundial passam três equipas para a fase seguinte num grupo de quatro. Na fase seguinte, há dois grupos, com seis equipas, e passam os dois primeiros classificados de cada grupo e o melhor terceiro classificado. Nós, Cabo Verde, qualificamo-nos como melhor terceiro na nossa última qualificação.

Os prognósticos sobre o último Mundial sempre colocaram Cabo Verde no fundo da tabela classificativa, mas fizemos uma boa figura. Agora, qual é o sonho?

O sonho é conseguir a qualificação, não podemos nos contentar com ter estado lá uma vez. Temos que mostrar que não foi por acaso que chegámos lá, que somos um país consistente. Para mostrar isso temos que trabalhar bastante, tratar cada jogo como importante, respeitar as outras seleções, levar jogadores que podem trazer a vitória para casa e trabalhar unidos, tanto dentro como fora do campo, pois onde há união há vitória.  

Recentemente houve eleições na FCBB. Acredita que a nova direção trará mudanças positivas?

Tem que criar as condições para que os jogadores estejam no maior nível possível porque representámos o nosso país, e não a nós próprios. Não é o jogador que lá está que conta, mas a bandeira que levámos às costas.

O calcanhar de Aquiles de qualquer seleção cabo-verdiana é quase sempre a falta de dinheiro. Sempre que ganha uma medalha ou alcança um feito importante, o Governo promete “mundos e fundos”. O que falta para que esses fundos cheguem, finalmente, aos cofres da FCBB?

Já é altura de o Governo reconhecer o trabalho que fazemos e investir firmemente no basquetebol. Melhores condições exigem investimentos financeiros grandes. Ás vezes, damos a aparência de ser muito amadores por causa de falta de financiamento.

Disse há pouco que o Gimno Desportivo não está em boas condições. Se este polidesportivo não oferece as melhores condições, onde irá treinar a seleção?

Se não for no Gimno Desportivo, teremos que treinar fora do país, assim com fizemos na nossa preparação para o nosso primeiro mundial. O Gimno Desportivo tem, este momento, um piso que é bastante escorregadio e com tacos em mau estado. Por isso, quando falo em investimento não estou apenas a falar de se dar dinheiro, mas de termos infraestruturas de qualidade também.

Oiça a entrevista na íntegra, na língua cabo-verdiana, aqui

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