Sexta-feira, 12 Setembro 2025

Encostada à coluna

Maria Madalena de Jesus: Egocentrismo

Egocentrismo nasceu bem dentro do umbigo da arrogância e logo cedo se destacou por uma característica peculiar: a habilidade de transformar o mundo em um mero palco para seu proveito e espetáculo próprio. Sempre de nariz empinado e com uma impressionante falta de interesse pelas opiniões alheias, Egocentrismo sempre fez questão de falar mais alto e mais tempo que todos os outros. Suas ideias? Sempre geniais, claro – pelo menos na sua própria opinião. Contribuições práticas, no entanto, eram raras. Afinal, pensar no coletivo ou resolver problemas não era bem a sua praia. Quando se chamava Egocentrismo para dar apoio em uma atividade concreta para o bem-comum, ele era um mestre em desaparecer. “Ah, desculpem, mas não deu mesmo para vir. Isso é problema deles”, pensava. “Eu tenho coisas mais importantes para fazer”.

“Não posso deixar de ir à minha praia, de ver a minha série, cuidar do meu jardim e de passear o meu cachorrinho. Era o que faltava mesmo! Desperdiçar o meu tempo nessa idiotice!” 

Nos encontros sociais, Egocentrismo adorava monopolizar as conversas. Tinha um dom especial para transformar qualquer história – não importa quão trivial – em uma saga épica centrada em si mesmo. Enquanto os outros compartilhavam novidades ou preocupações, Egocentrismo esperava pacientemente, apenas para redirecionar o foco de volta para as suas próprias aventuras.

A comunidade padecia de males diversos, as relações deterioravam-se cada dia mais, uma mãozinha era importante, mas Egocentrismo não estava nem aí. Para quê perder tempo com o que ele considerava de detalhes tão triviais?

Egocentrismo continuava a sua vida, completamente alheio a tudo e a todos, não fazendo nunca algo de verdadeiramente positivo para a sua comunidade.

– Cada um tem o que plantou! Não se cansava de dizer a si mesmo.

A ironia de sua existência era que, apesar de seu imenso amor por si mesmo, Egocentrismo era profundamente solitário. As pessoas ao seu redor mantinham uma distância segura. Estavam cansadas da sua incapacidade de se interessar por qualquer coisa ou pessoa além de si mesmo. Amigos verdadeiros não chegam nem aos cinco dedos de uma mão; conexões significativas, inexistentes.

Coitado! Egocentrismo estava preso na bolha de autoadmiração e irrelevância que ele construiu e onde cultivava a obsessão consigo mesmo, levando uma vida vazia, sem propósito e estéril. Enfim, um peso morto para a sua comunidade que, mais tarde ou mais cedo, a terra haveria de comer sem nenhuma comiseração. 

Tags

Partilhar esta notícia