Terça-feira, 23 Setembro 2025

Empreender nas Ilhas

Digitalização e Turismo Sustentável: A Nova Fronteira

A ilha de Santiago foi palco da III Conferência Internacional do Turismo Rural e de Natureza, um evento que reuniu especialistas nacionais e internacionais, governantes, setor privado e comunidades locais para debater estratégias sobre o futuro do turismo em Cabo Verde. Sob o lema “Inovação e Sustentabilidade impulsionam o futuro das viagens”, a conferência decorreu em São Jorge dos Órgãos, município de São Lourenço dos Órgãos, consolidando Santiago como um destino com enorme potencial para o turismo sustentável, destacando a importância da integração entre inovação tecnológica, preservação ambiental e envolvimento das comunidades locais no desenvolvimento do setor.

Por: Any Gomes 

O Secretário de Estado da Economia Digital, Pedro Lopes, destacou o papel transformador da tecnologia no setor turístico cabo-verdiano. “O digital não tem que ser um fim por si, ela é uma ferramenta para alavancar outros fatores, e o digital tem uma importante tarefa a cumprir com o turismo”, sublinhou durante o painel sobre políticas públicas no setor do turismo e economia digital”, afirmou Lopes, que anunciou investimentos significativos em infraestruturas digitais, incluindo um parque tecnológico em Santiago destinado a servir todo o Sotavento e o resto do continente africano.

“Fizemos um investimento grande num parque tecnológico em Santiago, mas garantimos também infraestrutura de conectividade”, explicou, referindo-se aos investimentos no cabo submarino ELLALINK e na modernização do cabo inter-ilhas. O governante disse ainda que os voos low-cost poderão trazer mais de 350 mil pessoas por ano para Cabo Verde, incluindo nómadas digitais. “Quando falamos em Nómadas Digitais, eles precisam de infraestruturas de qualidade. Desengana-se esta ideia do Nómada Digital como alguém a beber água de coco na praia com o seu computador – não é assim que funciona”, esclareceu Pedro Lopes, que também falou sobre a disponibilização de internet nos transportes inter-ilhas através de uma parceria com operadoras por satélite, incluindo o Starlink, permitindo a cobertura de zonas até agora sem conectividade.

Susana Andrade, representante do Turismo de Portugal, apresentou as estratégias portuguesas para um turismo mais sustentável. “O turismo tem crescido a um ritmo bastante acelerado nos últimos anos. Este crescimento rápido é bom para a perspetiva económica, mas traz também impacto nas comunidades locais”, alertou a especialista portuguesa, que destacou igualmente a Estratégia do Turismo 2027 e a Agenda para a Sustentabilidade como instrumentos fundamentais para posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo.

O Ministro do Turismo e Transportes, José Luís Sá Nogueira, reafirmou o compromisso governamental em posicionar Cabo Verde como destino global de turismo sustentável, inclusivo e diversificado. “Queremos com esta conferência reforçar o firme propósito de potenciar os recursos paisagísticos, humanos e culturais do país em produtos turísticos sustentáveis e de alto valor acrescentado”, declarou o ministro, que dá também destaque ao investimento de 4,7 milhões de contos mobilizados pelo Programa Operacional do Turismo (POT 2022-2026) para projetos ligados ao turismo de natureza, requalificações urbanas e acessibilidades.

Ana Veiga, da ONG Latuna, apresentou o potencial turístico da ilha de Santiago, destacando suas quatro áreas protegidas: o Parque Natural da Serra da Malagueta, o Parque Natural da Serra do Vitor António e o mais recente Parque Natural da Baía do Inferno Monteague, aprovado em 2021. Veiga alertou para os desafios enfrentados no desenvolvimento do turismo de natureza, particularmente no Parque Natural da Baía do Inferno (PNIMA). A ONG desenvolveu em 2020 uma rota pedestre de 30 quilómetros que atravessa o parque, criada em colaboração com as comunidades locais.

“Durante a fase inicial de implementação do projeto, contamos com uma estreita colaboração da comunidade de Entrepicos de Ré para o mapeamento dos trilhos”, explicou. No entanto, a falta de manutenção e infraestruturas de apoio tem comprometido o sucesso da iniciativa. A representante da Latuna denunciou ainda problemas graves de deposição ilegal de entulhos nas áreas protegidas: “Uma empresa depositou os entulhos no leito da ribeira, numa área considerada um dos sítios em Cabo Verde com mais riscos combinados”.

Pedro Lopes apresentou vários programas governamentais de apoio ao setor, incluindo o programa “Rio Vento”, que conecta o setor público e privado do turismo com jovens empreendedores. “O setor público e privado do turismo mapeia os desafios do setor e entregam aos jovens que desenham soluções tecnológicas”, explicou. O programa oferece financiamento de cerca de 5 mil euros a cada startup jovem para desenvolver projetos piloto, tendo já sido alargado aos setores da saúde e indústrias criativas.

A conferência foi enriquecida por uma exposição de artesanato e produtos de Santiago, sob o lema “Santiago, Uma ilha, Um Destino!”. O evento contou com participação de artesãos dos 9 municípios da ilha e stands institucionais da União Europeia, INIDA e Projeto Aldeias Rurais e Turísticas. O programa cultural incluiu desfile da Tabanka Praia, atuação do grupo Tradisom di Terra, caminhada ecológica Trail d’Santiago e rodas de batuco com grupos de todos os municípios de Santiago.

A conferência encerrou com a leitura da Declaração de Santiago, um documento que estabelece compromissos coletivos para impulsionar um turismo mais inovador e responsável em Cabo Verde.

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