O balanço humano das chuvas foi trágico: vidas perdidas, dezenas de feridos e mais de 1.500 pessoas desalojadas. Habitações destruídas, estradas intransitáveis e infraestruturas essenciais gravemente danificadas obrigaram à declaração de estado de calamidade por seis meses.
Mas, perante o sofrimento, surgiu uma resposta que enaltece a alma cabo-verdiana. A prontidão com que o país, a diáspora e os amigos estrangeiros se mobilizaram revelou uma solidariedade rara, genuína e transversal. Quando a adversidade bate à porta, o povo cabo-verdiano ergue-se — unido, resiliente e generoso.
Em Cabo Verde e nas comunidades emigradas multiplicaram-se campanhas de angariação de fundos, recolha de alimentos, roupas e medicamentos. As redes sociais transformaram-se em canais de mobilização, enquanto associações comunitárias assumiram o papel de pontes eficazes para que a ajuda chegasse em tempo recorde.
Ao mesmo tempo, organismos internacionais ativaram planos de resposta rápida, com foco na prevenção de surtos de doenças, e países amigos manifestaram prontidão para apoiar com meios logísticos e ajuda humanitária. O Governo anunciou medidas emergenciais de apoio às famílias e à retoma da vida económica.
Essa onda solidária tomou forma em ações concretas: voluntários organizaram-se para limpar ruas e apoiar diretamente as famílias mais afetadas; instituições de solidariedade promoveram campanhas de recolha em todas as ilhas; grupos de jovens lançaram iniciativas locais para arrecadar bens de primeira necessidade e enviá-los de imediato para São Vicente; associações comunitárias desenvolveram campanhas de angariação de fundos, lembrando que são estas estruturas, pela proximidade, que melhor conhecem as carências da população; e a diáspora respondeu de forma exemplar, mobilizando recursos importantes. A tudo isto somaram-se contribuições de parceiros internacionais, garantindo não apenas o socorro imediato, mas também bases sólidas para a recuperação a médio e longo prazo.
Se, por um lado, a nação se uniu em solidariedade, por outro, viveu momentos de orgulho coletivo no desporto. Os “Tubarões Azuis” do basquetebol fizeram-nos sonhar e acreditar. Chegar aos quartos de final do AfroBasket, enfrentando gigantes do continente, não foi apenas uma vitória desportiva: foi uma lição de coragem, disciplina e superação. Foi a prova de que Cabo Verde pode, sim, competir de igual para igual, independentemente da sua dimensão geográfica.
Este feito deve, contudo, despertar também uma reflexão: o que falta para transformar esta chama em estrutura duradoura? Já existem campos de basquetebol espalhados pelos bairros, mas eles precisam ser reforçados, iluminados e multiplicados. Mais do que locais de lazer, esses espaços são escolas de cidadania e oportunidades para jovens que encontram no desporto um caminho de inclusão, saúde e esperança.
É igualmente fundamental reconhecer o papel que as universidades devem assumir no desenvolvimento do basquetebol. Em países como os Estados Unidos, o sistema universitário é a principal via para o crescimento desportivo e académico, permitindo que jovens atletas evoluam enquanto estudantes e cidadãos. O exemplo internacional mostra-nos que a integração entre educação e desporto é estratégica para formar talentos, abrir portas globais e projetar Cabo Verde no mapa do basquetebol mundial.
Por isso, urge pensar em políticas que incentivem bolsas desportivas, parcerias entre universidades e federações, intercâmbios com centros de alto rendimento e, sobretudo, a criação de um ecossistema em que a paixão pelo basquetebol se traduza em futuro para a juventude.
Entre lágrimas de dor e aplausos de orgulho, a semana que passou lembrou-nos duas verdades fundamentais: a de que somos um povo que nunca deixa ninguém para trás, e a de que temos potencial para brilhar em qualquer arena.
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