O país já viu bancos nacionais fecharem portas, outros serem absorvidos silenciosamente, e agora um dos principais pilares do setor muda de mãos. O BCA, que nasceu sob controlo maioritariamente nacional, passa agora para capitais maioritariamente estrangeiros. Nada disto é, por si só, negativo. O mundo é global e o capital circula. O problema é não termos uma doutrina nacional clara sobre o que queremos para o nosso sistema financeiro.
Existem questões que devem ser respondidas ao país:
O sistema bancário não é um bem ordinário que se negocia como se não tivesse implicações institucionais profundas. Ele é parte de um pacto social de confiança que sustenta a economia. A forma como se concede crédito, como se investe, como se trata o cliente, como se gere risco — tudo isto influencia o país mais do que qualquer discurso político.
Por essa razão não estamos perante apenas um ato de compra e venda. Este é um momento de viragem e era de se esperar um debate sério, liderado pelo Governo e pelo Banco de Cabo Verde, sobre que modelo de sistema financeiro queremos. Pretendemos bancos mais competitivos? Mais africanos? Mais digitalizados? Mais orientados para as PME? Ou vamos simplesmente deixar que as forças do mercado ditem o rumo, sem perguntar se o país está confortável com isso?
É vital uma estratégia nacional para a propriedade e o futuro do nosso sistema financeiro — antes que esse futuro seja decidido por outros.
Se queremos atrair capital estrangeiro, temos de saber a que preço, com que contrapartidas, e com que proteções para o consumidor, as empresas e a economia nacional. Não podemos continuar a assistir às mudanças como se fossemos espectadores do nosso próprio destino.
A venda do BCA não é o fim do mundo, é claro, e nem é disso que se trata. Mas pode ser o início de uma nova era — e ninguém explicou ainda aos cabo-verdianos que era é essa.
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