Cabo Verde contribui com uma fração mínima das emissões globais de GEE — menos de 0,003% — ao mesmo tempo que está entre os países mais vulneráveis aos seus efeitos. O Governo cabo-verdiano tem insistido na necessidade de instrumentos de financiamento climático acessíveis, transparentes e desburocratizados. Os atuais mecanismos são lentos, pesados e frequentemente desenhados para realidades continentais, não para pequenos arquipélagos dispersos no Atlântico.
Se queremos resultados — governos, instituições multilaterais, sociedade civil e cidadãos — então é imperativo reconhecer que os critérios de acesso aos fundos climáticos não podem continuar a penalizar quem menos contribuiu para a crise e quem mais precisa de soluções imediatas.
A discussão sobre vulnerabilidade multidimensional — que Cabo Verde tem defendido de forma consistente — já ultrapassou a dimensão técnica e afirma-se hoje como uma questão claramente política, que exige reconhecimento, prioridade e ação. É também uma oportunidade para reposicionar os pequenos Estados insulares como atores geopolíticos relevantes, cuja experiência concreta pode orientar as políticas globais de adaptação e resiliência.
A COP30 será ainda um momento decisivo para medir a coerência dos discursos internacionais. Num mundo que se fecha em nacionalismos e prioridades domésticas, a tentação de adiar compromissos será grande. Mas Cabo Verde deve manter uma posição vigilante e estratégica, alinhando-se com as vozes que exigem mais ambição na redução de emissões, mais recursos para adaptação e mais respeito pelos compromissos assumidos. Para nós, este debate não é retórico. É estrutural. E é de sobrevivência. A erosão costeira avança. A água escasseia.
As bases económicas tradicionais fragilizam-se. As nossas comunidades vivem cada vez mais expostas a extremos climáticos. O custo da inação global é pago localmente — e pago caro. O país tem estado a fazer a sua parte ao investir em energias renováveis, na economia azul, na conservação e em políticas públicas de sustentabilidade. Mas não pode caminhar sozinho. Cabo Verde precisa que a COP30 produza decisões com efeito real, não apenas declarações de intenção.
Este é o momento para o país reforçar alianças, exigir compromissos e defender com voz firme que não pode haver uma transição climática justa sem os pequenos Estados insulares. A política internacional tem de deixar de tratar a vulnerabilidade como detalhe e passar a tratá-la como prioridade. A COP30 será uma prova de liderança global. E Cabo Verde tem de estar preparado para dizer, sem hesitação: a nossa sobrevivência não é negociável.
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