Sábado, 18 Outubro 2025

Em tom de opinião

Maria Graça: Cabo Verde entre o Mundial e a Diáspora

Há semanas que valem por um capítulo inteiro da nossa história nacional. Esta é uma delas. Num intervalo de apenas dois dias, vivemos duas vitórias diferentes, mas profundamente ligadas: a qualificação histórica para o Mundial de Futebol de 2026 e a realização do Congresso Internacional de Quadros Cabo-verdianos. Uma conquista no relvado. Outra, nas ideias. Ambas revelam o mesmo país — pequeno em território, mas imenso em talento.

A seleção nacional, comandada por Bubista, mostrou ao mundo o poder de um arquipélago que pensa globalmente. Dos 25 convocados, 14 nasceram ou formaram-se fora de Cabo Verde — em Portugal, França, Irlanda, Holanda, Luxemburgo e Estados Unidos.

Cada um deles é filho da diáspora que hoje é tão grande quanto o nosso próprio arquipélago. Juntos, provaram que a distância não nos divide: multiplica-nos. O futebol tornou-se, assim, a metáfora mais perfeita daquilo que o Congresso Internacional de Quadros Cabo-verdianos agora discute — a diáspora como vantagem competitiva e motor de desenvolvimento.

O encontro que termina hoje, 17 de outubro, na cidade da Praia, sob o lema “Um Diálogo entre o País e a Diáspora”, reuniu cerca de 300 quadros cabo-verdianos, residentes e emigrados.
Foi um espaço para transformar o orgulho nacional em estratégia, o entusiasmo em ação.

Acabámos de brilhar no desporto; a meta, agora, é institucionalizar o modelo de cooperação que nos possibilitou a vitória no relvado: conectar competências dispersas, integrar o saber global e reforçar o sentimento de pertença. E é justamente aqui que se impõe uma reflexão maior: tal como no futebol, Cabo Verde pode ser um gigante do Atlântico Norte se continuar nesta senda — a de integrar todos e fomentar um diálogo permanente entre os que estão dentro, de Santo Antão a Brava, e os que estão fora.

A mesma visão que uniu jogadores vindos de vários continentes comprova que temos capacidade para implementar uma estratégia nacional de desenvolvimento que some vontades, ligue saberes e transforme a dispersão em força. Unir instituições, empresas, universidades e comunidades é o caminho para fazer do arquipélago um verdadeiro laboratório de inovação, sustentabilidade e governança exemplar.

Ser pequeno não é sinónimo de limitação — e, como cantava o brasileiro Nelson Ned, “tamanho não é documento”. A grandeza sempre se mediu pela visão, pela capacidade de criar redes e pela inteligência com que transformamos o que é escasso em vantagem competitiva. Ao mobilizarmos a nossa diáspora, alinharmos políticas públicas com o conhecimento global e apostarmos em talento, ciência e inovação, deixaremos de ser periféricos para sermos referência, um ponto essencial no mapa das ideias e das oportunidades.

Se quisermos, o nosso arquipélago pode afirmar-se como um verdadeiro “hub atlântico” de excelência africana — um país que liga continentes e inspira outros pequenos Estados a sonhar grande, com os pés firmes nas ilhas e o olhar posto no mundo.

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