Entretanto, as oportunidades seguem um percurso tão estável quanto previsível. Não se perdem, não se evaporam, apenas circulam com notável disciplina pelos mesmos setores, territórios e redes. São oportunidades resilientes, que resistem à rotatividade e reconhecem com facilidade quem já lhes é familiar. Para os restantes, fica a aprendizagem precoce de uma virtude essencial: saber esperar sem fazer demasiado ruído.
É neste contexto que o conhecido “tem tempo” se revela um instrumento de gestão particularmente eficaz. O “tem tempo” tem a vantagem de não negar problemas nem prometer ruturas. Funciona como uma almofada social: absorve a inquietação, dilui a urgência e transforma a expectativa em hábito. Não entusiasma, mas tranquiliza. Afinal, quando tudo “tem tempo”, raramente alguém é chamado a explicar por que razão nada chega verdadeiramente a acontecer.
Importa reconhecer que o país funciona. As instituições mantêm-se, os calendários cumprem-se, os discursos são equilibrados e a estabilidade permanece intacta. Tudo avança, ainda que com passos contidos, cuidadosamente calculados para não perturbar o equilíbrio existente. Talvez seja essa eficiência serena que torne mais difícil perceber quando a paciência deixa de ser virtude e começa a ser estratégia — não de superação, mas de adiamento.
Chegados a 2026, o dilema nacional não será escolher entre desordem e estabilidade. Essa escolha foi feita há muito tempo. A questão, mais subtil, será saber se a paciência continuará a ser apresentada como resposta suficiente a uma sociedade que, sem levantar demasiado a voz, começa a pedir outras coisas: mais horizonte para os jovens, mais previsibilidade para quem vive do trabalho, mais abertura num sistema onde a concentração de oportunidades se tornou quase um dado natural.
Nada disto parece urgente. Não há alarmes, não há colapsos, não há dramatismos. Talvez porque a ausência de urgência seja, ela própria, o maior sinal de que o essencial tem sido sistematicamente adiado. Os países raramente se perdem por excesso de conflito. Perdem-se, muitas vezes, por excesso de conforto institucional, quando a calma se instala como substituta da decisão.
A paciência continuará, sem dúvida, a ser uma virtude. A questão é saber se, em 2026, ela será ainda uma escolha consciente — ou apenas um hábito bem ensaiado.