Terça-feira, 02 Dezembro 2025

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Praia concentra maior número de infeções por VIH

O VIH em Cabo Verde afeta cerca de 3.800 pessoas, segundo os dados mais recentes do Inquérito Demográfico de Saúde Reprodutiva. Nos primeiros três meses deste ano, as autoridades sanitárias detetaram 259 novos casos, confirmando uma tendência que se mantém estável na última década: entre 350 a 500 infeções anuais num país com pouco mais de meio milhão de habitantes.

Por: Renibly Monteiro

A cidade da Praia concentra o maior número de casos, seguida pela ilha de São Vicente e pelos municípios de Santa Catarina e Santa Cruz, em Santiago. A ilha do Sal e a cidade de São Filipe, no Fogo, completam a lista das zonas mais afetadas. O padrão geográfico revela que os centros urbanos mais populosos e com maior atividade económica registam prevalências mais elevadas.

“Tem sido uma ginástica a nível das instituições públicas coordenar as respostas para que estas pessoas tenham acesso aos cuidados de saúde, à prevenção e ao tratamento”, explica Adilson Pina, responsável pela avaliação do Comité de Coordenação do Combate à Sida (CCC-Sida), em declarações à agência de noticias, Inforpress.

O especialista sublinha que o número de infetados varia constantemente devido a óbitos, novos diagnósticos e emigração de portadores do vírus, o que exige atualização permanente dos registos sanitários. Por isso, hoje, Dia Mundial de Luta Contra o VIH-Sida assinalado a 1 de dezembro sob o lema “Eliminar as barreiras, transformar as respostas à sida”, Adilson Pina deixou um apelo à consciência individual e coletiva sobre a doença.

O maior número de casos tem rosto feminino 

A taxa nacional de prevalência situa-se em 0,6 por cento, mas as mulheres pagam um tributo mais pesado: 0,7 por cento face a 0,4 por cento nos homens. A disparidade não é nova e reflete vulnerabilidades que se perpetuam ano após ano.

“As mulheres continuam a ser as mais vulneráveis por esta doença devido a vários fatores”, afirma Adilson Pina, sem especificar as causas que colocam o sexo feminino em maior risco. Especialistas apontam frequentemente questões económicas, relações desiguais de poder e dificuldades em “negociar” o uso de preservativo como alguns dos elementos que agravam a exposição feminina ao vírus.

Os dados revelam realidades “escondidas” na sociedade cabo-verdiana. A comunidade de homens que mantêm relações sexuais com outros homens apresenta uma prevalência de 9,5 por cento, quase 16 vezes superior à média nacional. Os profissionais do sexo registam 4,9 por cento, enquanto consumidores de drogas e pessoas com deficiência atingem 2,6 por cento cada. Nos estabelecimentos prisionais, a taxa fixa-se em 2,4 por cento.

Avanços terapêuticos contrastam com preconceito

O Sistema Nacional de Saúde disponibiliza diagnóstico e tratamento gratuitos em todas as unidades sanitárias do arquipélago. A mais recente novidade consiste numa injeção administrada a cada seis meses com eficácia superior a 99 por cento na supressão viral, já adotada por diversos países europeus e africanos.

“Atualmente seguimos as normas internacionais para que as pessoas tenham a carga viral indetetável”, refere Adilson Pina, explicando que o objetivo clínico passa por tornar o vírus tão reduzido no organismo que não seja transmissível nem cause danos ao sistema imunitário.

Apesar dos ganhos terapêuticos, a discriminação e o estigma social continuam a penalizar os seropositivos, impactando a saúde e o bem-estar destas pessoas. O medo da rejeição leva muitos infetados a esconderem o diagnóstico, dificultando a adesão ao tratamento e a prevenção de novas transmissões.

Cabo Verde aprovou recentemente um quadro normativo que estabelece regras sobre prevenção, tratamento, cuidado e denúncia de situações discriminatórias relacionadas com o VIH-Sida, numa tentativa de proteger os direitos dos portadores.

Financiamento insuficiente ameaça resposta

O responsável do CCC-Sida identifica as parcerias e o financiamento como principais desafios na resposta à epidemia. O apelo surge num momento em que o país procura reforçar o apoio internacional para programas de prevenção e assistência.

De salientar que o Governo cabo-verdiano reafirmou em 2024 o compromisso de eliminar a transmissão vertical do VIH, de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação, e erradicar a Sida até 2030. As metas alinham-se com os objetivos globais estabelecidos pelas Nações Unidas e pela Organização Mundial da Saúde.

A efeméride foi instituída em 1988 pela Assembleia Geral da ONU, por iniciativa de James Bunn e Thomas Netter, funcionários do Programa Mundial de Combate à Sida da Organização Mundial da Saúde, com o objetivo de sensibilizar a população para a importância da prevenção e do combate ao vírus.

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