Sábado, 02 Agosto 2025

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Exposição “Cabo Verde: a História de um Arquipélago” narra 50 anos da história de Cabo Verde

Integrada no programa das comemorações dos 50 Anos da independência nacional, esteve patente na Praia a exposição “Cabo Verde, a História de um Arquipélago”. Organizada pela Universidade Sénior (Uni-Sénior), a mostra apresentou cerca de 400 peças documentais que contam a história do arquipélago desde o século XV até aos dias de hoje. 

Por: Renibly Monteiro

Em entrevista ao Voz do Archipelago, Fátima Fialho, coordenadora da exposição e membro da direção da Uni-Sénior, percorre cinco séculos de história cabo-verdiana, da colonização aos ganhos pós-independência, numa “viagem” através de cinco componentes históricas presentes na exposição “Cabo Verde, a História de um Arquipélago”. Através de 400 peças documentais cuidadosamente selecionadas, a mostra oferece uma visão desde os primeiros tempos da colonização até aos progressos alcançados após a independência. “Vamos encontrar aqui os cinco componentes desta exposição: a componente histórica, a componente dos poemas, testemunhos e homenagens, história da luta e os ganhos pós-independência”, descreve.

A primeira componente, conforme explica Fátima Fialho, apresenta documentos históricos fundamentais, incluindo 50 documentos selecionados com a ajuda do historiador Daniel Pereira. Estes incluem cartas régias, ofícios e reclamações do povo das ilhas que vão desde o século XV ao século XX, retratando a história de Cabo Verde desde o seu descobrimento. “Temos aqui documentos importantíssimos. Em homenagem aos 50 anos, escolhemos 50 documentos que retratam efetivamente a história de Cabo Verde desde o seu achamento”.

Poesia de protesto e testemunhos de vida

A exposição integra uma seleção de 50 poemas de escritores cabo-verdianos, não sobre saudade, ou amor, mas os chamados poemas de protesto e luta, esclarece a coordenadora: “Estes textos abordam temas como revoltas, injustiças e fome, todos de autores cabo-verdianos, muitos dos quais já faleceram”.

A exposição inclui ainda testemunhos de pessoas que viveram momentos históricos importantes, desde combatentes da luta clandestina e armada até cidadãos comuns e artistas. “Temos testemunhos de pessoas que descrevem onde estavam no dia da independência ou qual foi a sua participação durante as várias fases da luta”, refere Fátima Fialho.

Homenagens a figuras históricas e combatentes

As homenagens constituem outra vertente significativa, dedicadas a personalidades que participaram na luta pela independência, mas que já não estão entre nós, segundo Fialho. A exposição inclui entrevistas e textos de figuras como Helena Lopes da Silva (doutora Pancholita), Euclides Fontes, Paula Fortes, bem como homenagens a Aristides Pereira, Júlio de Carvalho e Lilica Boal.

Destaque especial é dado à “Mementa”, uma senhora da cidade da Praia que, conforme relata a nossa fonte, apoiou presos políticos vindos do Tarrafal para o Hospital Agostinho Neto. “Ela morava lá perto e dava um grande apoio”, lembra a coordenadora.

Da independência aos ganhos atuais

A quinta componente, denominada “ganhos após a independência”, aborda a evolução de Cabo Verde desde 5 de julho de 1975 até aos dias de hoje. Esta secção, elaborada com a colaboração de várias pessoas, documenta os progressos em setores como educação, saúde e infraestruturas. A exposição inclui ainda painéis sobre as fomes que assolaram o arquipélago, um trabalho do Arquivo Histórico Nacional que revela “uma marca que temos na nossa memória coletiva”. Estes painéis abordam as consequências terríveis das secas e da má governação, incluindo o trágico desastre da assistência ocorrido na cidade da Praia.

Adesão do público

Fátima Fialho diz-se satisfeita com a adesão do público. A exposição recebeu grupos da polícia, das Forças Armadas, crianças e adolescentes das Aldeias SOS e de colónias de férias. “As pessoas saem daqui entusiasmadas por terem recolhido toda esta informação”, afirma a coordenadora, acrescentando que muitos visitantes regressaram várias vezes para conseguir ver toda a exposição.

Segundo Fialho, o principal objetivo da exposição foi promover o diálogo intergeracional e combater o deficit de conhecimento histórico da história de Cabo Verde. “Muita gente não conhece a nossa história. Não se trata de opiniões, trata-se de documentos históricos”, enfatiza a coordenadora. A iniciativa da Uni-Sénior surge na sequência de uma exposição anterior sobre os 50 anos do 25 de Abril, organizada em 2024. “Entendemos que podíamos fazer alguma coisa semelhante. Assim como celebrámos os 50 anos do 25 de Abril, podemos celebrar os 50 anos da independência”, explica.

Mais do que uma simples exposição, esta iniciativa da Universidade Sénior constitui um exercício de cidadania e educação histórica, fundamental para que as novas gerações compreendam e valorizem o percurso que conduziu Cabo Verde à independência e aos progressos conquistados nos últimos 50 anos. Como sublinhou Fátima Fialho, tratava-se de transmitir conhecimentos e dar a conhecer” a história verídica, a história real de Cabo Verde”.

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