Escondida entre montanhas verdejantes no norte de São Nicolau, a aldeia de Covoada voltou a ficar completamente isolada. As fortes chuvas da passada sexta-feira, 5 de dezembro, destruíram por completo os únicos caminhos que ligam esta pequena comunidade ao resto da ilha. Covoada situa-se a 7 km a noroeste de Ribeira Brava, mas a distância real parece muito maior. Para lá chegar, é preciso percorrer caminhos empedrados, por vezes dentro da própria ribeira, enfrentando depois uma subida longa e íngreme. Só no topo se revela o vale onde repousa a aldeia, exigindo então uma acentuada descida para a alcançar.
Esta localização remota faz de Covoada um dos lugares mais pitorescos da ilha. As suas paisagens verdejantes, especialmente frescas nesta época do ano, atraem turistas que procuram trilhas autênticas e natureza intocada. É um refúgio de tranquilidade, um pedaço de Cabo Verde onde o tempo parece correr mais devagar.
Mas por trás da beleza esconde-se uma realidade dura. Os poucos habitantes que ainda resistem em Covoada vivem essencialmente da agricultura e pecuária, enfrentando o desafio diário de uma vida marcada pelo isolamento. Um morador testemunhou os estragos das últimas chuvas e afirma que o caminho de acesso está totalmente destruído, coberto de pedras e lama trazidas pelas enxurradas. Mesmo os caminhos internos que ligam a pontos essenciais como o chafariz ficaram intransitáveis.
“A situação exige urgência. Precisamos de acesso, temos de desencravar o mais rápido possível”, afirma o residente, revelando a angústia de quem se vê novamente cortado do mundo. 
Para quem vive em Covoada, deslocar-se à Fajã, a zona mais próxima com serviços e oportunidades de trabalho, já era um desafio, agora tornou-se impossível. A aldeia tem vindo a perder população acelerada. Ano após ano, famílias inteiras deixam Covoada em busca de uma vida mais digna nas cidades ou noutras ilhas. Os que ficam assistem, impotentes, ao esvaziamento progressivo da sua comunidade.
A vulnerabilidade perante as chuvas, que ciclicamente destroem os acessos, é um dos principais fatores que aceleram este êxodo. Cada temporal representa não apenas uma emergência imediata, mas também mais um motivo para questionar se vale a pena continuar. O que resta é uma população envelhecida e cansada, mas teimosamente apegada à terra que sempre foi sua. São os guardiões involuntários de uma aldeia que teima em não desaparecer, apesar de todos os sinais apontarem nessa direção.
Foi neste cenário de desolação que o Presidente da Câmara Municipal, Nilton Monteiro, tentou chegar após as chuvas de 5 de dezembro. Apesar da grande dificuldade de acesso, o autarca conseguiu avaliar parte dos danos e ouvir o testemunho de moradores sobre a situação crítica. A visita reforçou a urgência de intervenção. O edil garante que as obras para restabelecer a circulação são prioridade absoluta e terão início brevemente.
“Vamos fazer tudo ao nosso alcance, juntamente com o Governo, para mobilizar os recursos necessários e devolver a normalidade à população de Covoada”, prometeu Nilton Monteiro.
O autarca promete ainda visitar outras localidades afetadas pelas chuvas, como Pico da Aguda, que também ficou sem acesso. Na visita a esta zona, apelou à junta de moradores para colaborar na recuperação da conectividade. Covoada permanece entre dois destinos possíveis. Por um lado, tem tudo para ser um destino turístico de excelência ( natureza exuberante, autenticidade, tranquilidade). Por outro, enfrenta o abandono progressivo, a falta de investimento e a vulnerabilidade perante fenómenos naturais que se tornam cada vez mais frequentes. 
A aldeia aguarda, esperançosa, mas cansada, por uma luz de ajuda que trave o seu desaparecimento. As promessas do poder local e a mobilização do Governo podem representar uma tábua de salvação, mas os habitantes de Covoada já ouviram muitas promessas chegarem com as chuvas e irem-se embora com a seca.
Por agora, resta esperar que desta vez seja diferente. Que os caminhos sejam reconstruídos, que o acesso seja restabelecido, e que esta pequena pérola escondida nas montanhas de São Nicolau tenha finalmente a atenção que merece. Porque Covoada não é apenas uma aldeia isolada por um temporal. É um símbolo de todas as comunidades remotas de Cabo Verde que resistem entre a beleza da terra e a dureza da vida, entre a vontade de ficar e a necessidade de partir.