Alexandre Rodrigues, especialista em alterações climáticas, alerta que Cabo Verde registou em 2024, em alguns períodos do ano, a temperatura média de 1,55°C, valor que deveria ser uma realidade apenas no final do século, ou seja, em 2100. Por isso, o arquipélago tem vindo a estrutura políticas públicas integradas para combater os impactos climáticos que ameaçam reduzir a precipitação em 10% e aumentar a temperatura local até 2°C até ao final do século.
Por: Renibly Monteiro
“O que a ciência também nos diz é que a diferença entre 1,5 graus e 2 graus, em termos de impacto nos ecossistemas, e do impacto na nossa vida, é muito grande”, sublinhou o especialista. A gravidade da situação torna-se ainda mais evidente quando se considera que, sem medidas de mitigação, o planeta caminha para um aumento de temperatura próximo dos 5°C até ao final do século, muito longe dos objetivos estabelecidos.
As consequências das alterações climáticas já se fazem sentir de forma concreta em Cabo Verde. A temperatura média do arquipélago poderá aumentar até 1,5°C num cenário otimista, ou aproximar-se dos 2°C se o aquecimento global atingir esse patamar.“E nós deveríamos estar na linha mais amarela, para realmente garantirmos que no futuro tenhamos ainda seres vivos, humanos e outras espécies a viver na forma como conhecemos hoje, reiterou.
Impactos diretos na agricultura e na saúde
Segundo os dados apresentados pelo especialista, as dificuldades serão acrescidas para quem depende da atividade agrícola, é que está prevista uma redução de cerca de 10% na precipitação, ou seja, menos chuva, o que terá impactos devastadores na agricultura. “As pessoas que trabalham no campo terão menos água e mais calor”, disse Alexandre Rodrigues.
Estes dados revelam uma aceleração preocupante dos desastres naturais. Entre 2008 e 2017, foram mapeados diversos desastres naturais no país, mas apenas em 2018 registaram-se 315 ocorrências, quase o equivalente ao total da década anterior. Particularmente, os mais vulneráveis são as mulheres, que representam 80% dos deslocados por causa das alterações climáticas ou desastres naturais, segundo relatório dos Escritórios das Nações Unidas sobre questões humanitárias.
Cenário crítico exige ação imediata
Face a este cenário, Cabo Verde está a desenvolver uma política pública integrada assente em três pilares fundamentais: as Contribuições Nacionais Determinadas (NDC), o Plano Nacional de Adaptação e uma estratégia para desenvolvimento de baixas emissões de carbono que conduz a neutralidade carbónica. A estratégia de redução de emissões de gases com efeito de estufa, segundo a mesma fonte, apresenta benefícios económicos significativos. A introdução de energias renováveis e maior eficiência energética permitirá reduzir a importação de combustíveis fósseis, mantendo o investimento no país e tornando a energia mais barata.
“Quanto mais investir agora em energias renováveis, menos combustíveis fósseis vamos ter de importar, o que significa menos dinheiro para mandar para fora”, explicou Alexandre Rodrigues. É que, energia mais barata tornará o país mais competitivo para empresas e reduzirá os custos de produção de água, conforme explicou o especialista. Apostar nas energias renováveis, nas palavras de Alexandre, trará benefícios que vão além da redução de emissões. A melhoria da qualidade do ar, resultado de menos veículos e fábricas a emitir gases poluentes, terá impactos positivos na saúde pública. A água, produzida com base na energia, tornar-se-á mais barata, aumentando a competitividade do país e melhorando o acesso a este recurso essencial.
Para Rodrigues, a ação tem de ser urgente, caso contrário, as consequências podem ser inevitáveis e apenas os mais resilientes têm a probabilidade de prosperar. “Não é o fim do mundo, mas é o fim provavelmente de muita coisa como nós conhecemos hoje”, concluiu o especialista, reforçando a necessidade de políticas corajosas e ação efetiva para construir um país mais resiliente e reduzir as vulnerabilidades estruturais existentes.
O Dia Mundial do Ambiente, á assinalado anualmente a 5 de junho desde 1973. Ao longo de cinco décadas, esta data tornou-se numa das maiores formas globais de sensibilização ambiental, mobilizando dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
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