A eleição de Zohran Mandani para prefeito de Nova York não foi um ato isolado e é um fato político pleno de significados
Em Nova York a participação de jovens no processo eleitoral foi inédita e decisiva, fenômeno apenas comparável à eleição do ex-presidente Barack Obama.
Candidatos do Partido Republicano sofreram derrotas históricas nas disputas para governador em Nova Jersey, onde Jack Ciattarelli perdeu por uma diferença de 13% dos votos para a candidata do Partido Democrata Miki Sheriff, e na Virginia, onde a deputada federal, Abigail Spanberger venceu a vice-governadora republicana Winsome Earle-Sears por uma margem de 15% dos votos.
Os republicanos perderam onde quer que estivessem na cédula de votação. Os latinos votaram nos democratas com uma margem de 15 a 40%, invertendo os marcos da votação dada aos republicanos nas últimas eleições presidenciais. A violência com que o ICE (agência que cuida da imigração e que tem atuado como milicia armada do governo federal) prende pessoas negras e pardas com base unicamente em sua aparência gerou uma forte reação contra as políticas de Trump. A derrota dos republicanos também foi interpretada como reação ´popular ao aumento do custo de vida.
Nascido em Kampala, capital de Uganda, Mamdani imigrou para os Estados Unidos aos sete anos, e se naturalizou norte-americano aos 18. Sua carreira política iniciou-se em 2021, ao se eleger deputado estadual pelo bairro de Astoria, no Queens.
Durante a campanha, Mamdani defendeu uma agenda centrada em políticas de bem-estar social, prometendo transporte público gratuito, congelamento dos aluguéis, implementação de creches gratuitas e a criação de cinco supermercados subsidiados pelo governo, um para cada distrito da cidade de Nova York. Sua candidatura foi construída por meio de mobilização comunitária, voluntariado e pequenos financiamentos coletivos.
Segundo a pesquisadora Neusa Maria Pereira Bojikian, especialista em política econômica e internacional dos Estados Unidos, a ascensão do Democrata está ligada à erosão do consenso neoliberal que orientou a governança das cidades norte-americanas desde os anos 1980. “No plano sociopolítico, Mamdani representa uma mudança geracional nas elites políticas, a institucionalização de agendas progressistas oriundas dos movimentos sociais e a reconfiguração do eleitorado das grandes cidades em torno de pautas como habitação, transporte e imigração”, diz (Isis Blanco, Jornal da Unesp, 05/11).
Do ponto de vista econômico, a candidatura de Mamdani ofereceu um contraponto ao regime de acumulação e de concentração de riqueza que marcou Nova York em governos anteriores. Esse modelo transformou a cidade em uma “empresa”, com forte financeirização do território, privatização dos serviços públicos e aliança entre governo e capital imobiliário. “Mamdani altera esse eixo ao colocar o Estado como agente redistributivo, e não apenas como gestor eficiente de interesses privados”, analisa Isis Blanco
A cena em que Mandami mandou um recado para o presidente Trump, pedindo que aumentasse o volume do aparelho em que estivesse acompanhando o resultado das urnas, foi desafiadora e simbólica. O novo prefeito disse, alto e bom som: “Nova York vai continuar sendo uma cidade de imigrantes. Uma cidade construída por imigrantes, impulsionada por imigrantes, e, assim como nesta noite, liderada por imigrantes — disse Mamdani, antes de voltar a se dirigir ao presidente americano. — Então ouça, presidente Trump, quando eu digo: Para chegar a qualquer um de nós, você terá que passar por todos nós.”
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