Ao contrário do Trump alega, as relações comerciais entre os dois países têm sido favoráveis aos Estados Unidos: os americanos exportam mais para o Brasil do que importam produtos brasileiros. Não há motivo económico, o que acentua o caráter político e ideológico da medida.
Enquanto o governo Lula buscava o caminho da negociação, não abrindo mão da soberania nacional, Trump fez nova investida contra o país. O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) atendeu a um pedido feito pelo presidente norte-americano e abriu uma investigação comercial contra o Brasil.
O governo Trump intensificou as sanções a Moraes, numa agressão inaceitável ao poder judiciário. Vistos dos ministros do Supremo foram suspensos, numa ampliação de medidas restritivas já aplicadas a Moraes. Lula expressou solidariedade aos ministros e classificou a decisão como “mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento” por parte do governo norte-americano.
“A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações (…) Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito”, declarou.
Numa escalada de intimidação, os EUA anunciaram a inclusão de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, aplicada contra graves violadores de direitos humanos. A lei prevê sanções como bloqueio de contas bancárias e de bens em solo norte-americano, além de cancelamento de vistos e proibição de entrar no país.
A decisão foi tomada depois de Moraes endurecer as medidas cautelares contra Bolsonaro – o uso de tornozeleiras eletrónicas – diante de risco de fuga. Como nas sanções anteriores e na imposição de tarifas de 50%, elas são arbitrárias e têm motivação política, não havendo base real para serem aplicadas.
Embora não tenha respondido aos reiterados pedidos do governo e da diplomacia brasileira para negociar, mas pressionado internamente pelas empresas norte-americanas que importam produtos brasileiros, pelo descontentamento popular e aumento da inflação, Trump voltou a liberar cerca de 700 produtos brasileiros do tarifaço de 50% que ainda continua para mercadorias – como o café, a carne, frutas e calçados – ameaçando empregos, inclusive na agricultura familiar.
Lula criou um comité com empresários para repensar a política comercial com os Estados Unidos, coordenado pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. O governo conseguiu aprovar um plano de emergência para socorrer os setores afetados pelo tarifaço oferecendo isenção de impostos e linhas favoráveis de crédito, exigindo como única condição a manutenção do emprego.
Por outro lado, o aumento das tarifas serviu para aglutinar em torno do governo, e em busca de uma saída, setores refratários ao “lulismo”. A defesa da soberania nacional contribuiu também para elevar o índice de aprovação do governo e a popularidade do presidente Lula. A tentativa fracassada de obstruir o funcionamento do Congresso e exigir a votação da anistia aos golpistas levou ao isolamento da extrema-direita no cenário político. Ficou claro para a sociedade brasileira, inclusive para setores bolsonaristas, que o tarifaço de Trump tem sido um tiro no pé.
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