Sábado, 26 Julho 2025

A análise de Alex Sgreccia

Gaza, guerra de extermínio

Nada parece conter o genocídio cometido pelo governo de Israel em Gaza. Apesar das várias tentativas de cessar-fogo e do crescente repúdio internacional, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu , mantém a guerra de extermínio que já dizimou cerca de 56 mil pessoas, segundo estimativa do Hamas, a maioria mulheres e crianças. O local onde antes pulsava a vida foi transformado em escombros. A entrada de ajuda humanitária para a população civil foi proibida e a fome está sendo usada como arma de guerra.

O objetivo é livrar-se do Hamas, enquanto organização política e militar, e ocupar o território com colônias de judeus, política abandonada em 2005. A coligação de extrema-direita que governa Israel pretende eliminar, fisicamente ou pela expulsão do território, 80% da população de Gaza, mantendo o restante como não cidadãos e mão de obra barata, a exemplo do que já acontece na Cisjordânia e em Jerusalém, onde a ocupação por parte dos judeus avança sobre a linha verde que devia separar a área muçulmana da israelense. 

Netanyahu fortalece, dessa maneira, a coligação política que o mantém no poder. Tem o aval do governo Trump, sob o silêncio da maioria das nações. O presidente norte-americano, Donald Trump, que prometera em campanha eleitoral solucionar rapidamente o conflito, faz vista grossa à limpeza étnica em curso em Gaza e acalenta o sonho de construir no local o que denomina de Riviera do Oriente Médio.

Em pronunciamento durante a visita a Moscou, em maio, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou: “Na Faixa de Gaza, é um genocídio cometido por um exército altamente treinado contra mulheres e crianças, sob o pretexto de eliminar terroristas. Já houve casos de explosão de hospitais, onde não havia terroristas, apenas mulheres e crianças”.

O objetivo de Netanyahu, no entanto, é claro: expandir o território e a influência de Israel no seu entorno, em nome da segurança nacional. É isso que o move na guerra para eliminar o Hamas como organização política e livrar Gaza da presença de palestinos. O mesmo objetivo o levou a promover atos terroristas e a invadir o Sul do Líbano, a bombardear Beirute para neutralizar a ameaça militar do Hezbollah e eliminar sua liderança. Não foi diferente, ao atacar os guerrilheiros houthis no Yemen e ao aproveitar o vazio de poder no início da guerra civil síria para destruir o poder bélico do país vizinho e ocupar as Colinas de Golã.

Numa ação mais audaciosa, mirou o Irã, cujo regime é acusado de financiar as organizações terroristas que ameaçam Israel.  Na madrugada do dia 13 de junho, a força área israelense bombardeou instalações nucleares do Irã. O principal alvo foi a usina de Natanz. Dois dos principais líderes militares do país foram mortos, além de cientistas ligados ao programa nuclear. O ataque foi justificado por Netanyahu como necessidade de defesa de Israel, ameaçada com a possibilidade de os iranianos produzirem armas nucleares. Usou como pretexto a acusação, feita pela Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, de que o Irã estava violando obrigações nucleares.

Teerã retaliou, furando o bloqueio do “escudo de ferro” com seus mísseis e causando danos principalmente em Telavive e Haifa.  Israel, com superioridade militar aérea, continuou bombardeando o Irã. Por fim, contou com a ajuda dos Estados Unidos para danificar seriamente as usinas nucleares de Fordow, Estahan, além de Natanz.

Os horrores da guerra de extermínio em Gaza acabaram ampliando a crítica ao governo de Israel e seu isolamento no cenário internacional, ao mesmo tempo em que têm contribuído para intensificar o antissemitismo mundo afora.  Em nota conjunta, Reino UnidoFrança e Canadá ameaçaram adotar “medidas concretas” caso Tel Aviv não cesse “ações escandalosas” no território. Em nota separada, mais de 20 países exigiram a “retomada completa de ajuda” aos palestinos. Representantes de vinte países, entre eles o Brasil, se reuniram na Espanha, a convite do primeiro-ministro Sanchez, para discutir a criação do Estado da Palestina.

Havia a expectativa de o presidente Emmanuel Macron reconhecer oficialmente o Estado da Palestina, segundo ele “não apenas um dever moral, mas uma exigência política”. Caso avançasse, a França poderia se tornar o primeiro país do G7 a reconhecer formalmente a Palestina, rompendo com o silêncio cúmplice de boa parte do Ocidente. “Se a França agir, vários países europeus seguirão”, afirmou à Reuters o chanceler da Noruega, Espen Barth Eide. (Brasil247, 28/05). No entanto, Macron desistiu de comparecer à próxima reunião da ONU para discutir o tema. Foi pressionado pelo Reino Unido e pelo Canadá, sob a alegação de que uma ação unilateral da França poderia minar esforços de coordenação internacional com Israel, ampliando tensões diplomáticas.

Manifestações contra o genocídio cometido em Gaza se alastram pelo mundo. A Praça da República, em Paris, voltou a ser tomada, em junho, por milhares de manifestantes em resposta à interceptação do navio da Flotilha da Liberdade pelas forças armadas de Israel. A embarcação humanitária tentava romper o cerco à Faixa de Gaza quando foi cercada pela Marinha israelense, ainda em águas internacionais, numa grave violação do direito marítimo e dos direitos humanos. “Gaza, Gaza, Paris está contigo!”, era o grito nas ruas parisienses. Houve protestos também em Roma. Manifestantes reuniram-se na Praça dos Reféns, em Telavive, gritando: “O povo escolhe os reféns”, numa alusão ao acordo de cessar fogo no lugar da continuidade dos ataques a Gaza. Uma manifestação foi realizada em São Paulo, no dia 15 de junho.

Vozes em Israel tornam-se mais contundentes, como a mensagem postada nas redes sociais por Edith Brucck, escritora de 94 anos e sobrevivente de Auschwitz, um dos mais terríveis campos de concentração nazista na Alemanha. “O que está acontecendo em Gaza é muito, muito doloroso para mim, e acredito que é o mesmo para todos. Netanyahu causa um tsunami de antissemitismo, pois todos identificam judeus no governo israelense. Mas a maioria dos judeus e israelitas discordam absolutamente do governo de Netanyahu. (…) Mas não é o suficiente. Israelenses precisam protestar mais. (…) Hora de uma rebelião. Todos os militares deveriam se rebelar e não seguir ordens desumanas. (…) Usar Deus para matar é uma coisa monstruosa.” (La Curatrice, Facebook, 01/06).

A contraproposta do Hamas ao mais recente plano de paz dos EUA foi considerada inaceitável por Netanyahu. Ele aproveita-se da cobertura dos Estados Unidos para continuar a guerra de extermínio em Gaza e usa a guerra para se manter no poder.

 

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