Sexta-feira, 02 Maio 2025

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Êxodo jovem em São Nicolau: fuga em busca de vida melhor

São Nicolau enfrenta um alarmante processo de desertificação humana. A migração de jovens em busca de melhores condições de vida, tem reduzido a população local, impactando negativamente a economia, a cultura e a dinâmica social da ilha. Voz do Archipelago foi conhecer histórias de  jovens cuja vida é o retrato desta dura realidade, que o Presidente da República, José Maria Neves, denunciou logo no primeiro dia sua “Presidência na Ilha” na terra de Chiquinho

Por: Any Gomes 

“São Nicolau precisa de uma nova vida. A ilha está a desertificar-se. Muita gente, sobretudo jovens, estão a sair da ilha e é importante encontrar soluções para que as pessoas não abandonem a ilha, não haja essa sangria e permita que a economia, a vida social e cultural da ilha funcione bem”, afirmou José Maria Neves em declarações à imprensa, após um encontro com o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Brava, no dia 31 de março. 

A falta de emprego e oportunidades de crescimento profissional no território é uma realidade e tem levado muitos jovens a procurar alternativas em outras ilhas de Cabo Verde, principalmente na ilha do Sal, ou até mesmo a sair para o exterior, sobretudo Portugal.

O Impacto da Desertificação

Segundo dados dos censos de 2010 e de 2021, houve um crescimento da população da ilha de São Nicolau entre 2010 e 2021. A população aumentou de 12.032 habitantes em 2010 para 12.424 habitantes em 2021, o que representa um crescimento de aproximadamente 3,26%. 

Mas os pequenos povoados, incrustados nas zonas rurais, que antes vibravam com a energia dos mais jovens, estão a ficar cada vez mais esvaziados e envelhecidos, com uma população maioritariamente idosa.

“Basicamente, aqui não temos nada, falta uma universidade para os jovens estudarem, por isso estão a sair porque não conseguem aqui uma formação adequada e nem estágios. Além disso, os patrões só querem pagar salário mínimo, o que é um abuso”, afirma o jovem Delvany Cruz, residente na localidade de Belém, concelho da Ribeira Brava. 

A agricultura, a principal fonte de subsistência de muitas pessoas, também está a ser afetada pela fuga de mão-de-obra. Com a saída dos jovens, o desinteresse pelo setor agrário se torna ainda mais evidente.

Mais formação, políticas públicas e emprego

“Primeiro de tudo, aqui não está a ser criado nenhum tipo de emprego para os jovens e, depois, os jovens de São Nicolau estão muito desvalorizados. Isso está a afetar muito a nossa ilha e está a levar à saída dos jovens da nossa ilha”, Yuran Oliveira, residente na cidade do Tarrafal, do concelho com o mesmo nome. 

A migração para as grandes cidades de Cabo Verde ou a saída para o estrangeiro não é apenas uma escolha, mas uma necessidade, diz a camada jovem da ilha. Muitos se sentem compelidos a abandonar a sua terra natal em busca de emprego estável, melhores condições de saúde, educação de qualidade e uma vida com mais perspetivas.

“São Nicolau tem pouco a oferecer aos jovens, não há empregos, as oportunidades de estudo são limitadas, e o futuro parece incerto. Eu e muitos dos meus amigos decidimos procurar melhores condições de vida em outros lugares. Ninguém quer sair, mas não vemos outra opção”, relata o jovem Carlos Silva, natural da ilha que imigrou para Lisboa em busca de uma nova vida.

A situação também reflete a carência de políticas públicas eficazes que incentivem o desenvolvimento sustentável e o emprego jovem na ilha. A falta de infraestruturas adequadas, como estradas e centros de saúde, contribui para a dificuldade de atração de investimentos e a escassez de serviços essenciais.

“O que deve-se fazer é criar mais formação para os jovens na ilha e criar meios de trabalho para eles, só assim a nossa ilha vai saber ganhar, e não perder. Porque, a cada dia que passa, a nossa ilha está a ficar mais pobre em termos de jovens e está a ser cada vez mais difícil arranjar emprego”, salienta o jovem Yuran.

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