Sábado, 19 Abril 2025

Em tom de opinião

Fechando março em 2025

Maria Graça – Diretora Geral 

Tenho ouvido de muitos homens e também de muitas mulheres que ter dias dedicados às mulheres é uma leviandade. Mas, ter um dia dedicado pode servir para destacar desafios, conquistas e reforçar a importância da luta por igualdade. Reconheço que a resistência a essas datas vem, muitas vezes, da frustração com a falta de mudanças reais ou do receio de que sirvam apenas para discursos vazios. Contudo, mesmo que haja criticas e frustrações, celebrar o Dia Internacional da Mulher e o dia da Mulher Cabo Cabo-verdiana tem cumprido o seu papel que é o de dar visibilidade, sensibilizar a sociedade e impulsionar debates e ações concretas. Os ganhos são evidentes, mas ainda insuficientes.

A edição de 2024 do Relatório de Progresso dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS deixa claro que serão necessários 137 anos para erradicar a pobreza entre todas as mulheres e meninas. Se ficarmos quietos, mudos, e se olharmos para os retrocessos que estão a ocorrer em todo o mundo no que diz respeito aos direitos das mulheres, esses 137 anos podem facilmente duplicar, tornando a espera interminável. Aos homens e mulheres que consideram uma leviandade a celebração desses dias, deixo aqui alguns dados sobre as severas restrições que milhões de mulheres ainda enfrentam em diversas partes do mundo, seja por leis discriminatórias ou normas culturais e sociais. 

A proibição de estudar além do ensino fundamental, trabalhar em diversas áreas, viajar sem a companhia de um tutor masculino ou até frequentar espaços públicos sozinhas, é ainda uma realidade em muitos países. Em muitos lugares, o acesso à saúde e à justiça é extremamente limitado para as mulheres. Milhares de mulheres ainda são vítimas de casamentos forçados, mutilação genital feminina e violência de género, sem que existam políticas públicas eficazes para protegê-las. Em algumas regiões, a violência sexual é usada como arma de guerra, e há casos de escravidão moderna, onde mulheres são exploradas sem qualquer direito básico.

Em certos países, o aborto é totalmente proibido, e mulheres que sofrem abortos espontâneos podem ser presas por homicídio. O feminicídio continua a ser uma realidade alarmante, e, na maioria dos casos, os agressores não são punidos. A ONU Mulheres e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) reportaram que, em 2023, 85 mil mulheres e meninas foram mortas intencionalmente em todo o mundo, sendo que 60% desses homicídios foram cometidos por um parceiro íntimo ou outro membro da família. O índice equivale a 140 mulheres e meninas mortas todos os dias ou uma a cada dez minutos, sendo que Africa é o continente com taxa mais elevada.

Além disso, muitas mulheres ainda são impedidas de possuir terras ou abrir uma conta bancária. Leis discriminatórias dificultam a herança de propriedades, e, em algumas nações, as mulheres precisam da autorização do marido para aceder a terras agrícolas ou até mesmo para abrir uma conta no banco. A falta de documentação oficial também as exclui do sistema financeiro, limitando sua autonomia económica.

Diante dessa realidade, o caminho a percorrer para garantir que todas as mulheres possam viver com dignidade, autonomia e igualdade ainda é muito longo. Por isso, assinalar o 8 de março e o 27 de março não é apenas pertinente, mas necessário.

Um feliz Dia da Mulher Cabo-Verdiana a todas e a todos.

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Uma resposta

  1. Referente a D Maria da Graça, fundadora da Eme- Eventos, é um exemplo para a sociedade Cabo Verdiana,(mulheres) pela forma como se afirmou, numa época que ainda era fechada ao desafio que ela implementou…
    Hoje sem dúvida, e um marca de referência,no que concerne a qualidade na prestação de serviços de marketing e eventos… Parabéns Maria da Graça.
    Que venham muitos mais anos,com saúde e somatório de sucessos.

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