Maria Graça – Diretora Geral
Março é um mês de celebrações significativas. Comemoramos o Dia Internacional da Mulher, um marco na luta pela equidade de género, o Dia da Mulher Cabo-verdiana, um indicador da importância que a mulher tem em Cabo Verde e o Dia do Pai.
É neste mês rico em datas importantes que assumimos, com empenho, dedicação e responsabilidade, uma nova responsabilidade: Voz do Archipelago, que vem substituir o Fogo Business, criado em fevereiro de 2022, com um propósito muito nobre e patriótico: o de promover a ilha do Fogo, as suas potencialidades, gentes e negócios.
Neste mundo de convulsões, de transformações céleres, é um imperativo haver uma pluralidade e diversidade de vozes pelo que o Voz do Archipelago surge como um passo estratégico para ampliar a nossa voz, conectar-nos com um público mais vasto, influenciar debates importantes, promover conhecimento de maneira mais ágil e acessível e, naturalmente, alcançar mais leitores, dentro e fora de Cabo Verde.
Neste mês da mulher e do pai e neste ano em que celebramos os 30 anos da Declaração e Plataforma de Ação de Beijing, um marco histórico na luta pela igualdade de género, surge Voz do Archipelago, um jornal fundado e gerido por mulheres.
Em 1995, líderes mundiais comprometeram-se a promover os direitos das mulheres em diversas áreas, incluindo educação, economia, saúde e participação política. Três décadas depois, os avanços são inegáveis, mas os desafios permanecem e, em algumas frentes, há até retrocessos. Em Cabo Verde, as dificuldades enfrentadas pelas nossas jovens mulheres evidenciam que ainda há um longo caminho a percorrer.
O mês e ano são simbólicos e inspiram-nos a uma reflexão sobre um tema que nos tem provocado alguma inquietação: o futuro das nossas jovens mulheres. Vemos com frequência um padrão que revela fragilidades no planeamento da vida. Muitas delas enfrentam dificuldades para ingressar no mercado de trabalho e, quando conseguem uma oportunidade, deparam-se com dilemas que comprometem o seu percurso profissional e pessoal.
Um desses desafios, que pouco se discute, mas que está a tornar-se cada vez mais comum, é o facto de algumas jovens julgarem ser necessário, num processo de seleção para um emprego, esconder a gravidez, temendo ser preteridas no processo seletivo.
Esta realidade expõe uma vulnerabilidade estrutural. Por um lado, reflete a persistência de um ambiente de trabalho que, muitas vezes, penaliza a mulher pela maternidade. Por outro, revela a necessidade urgente de uma maior orientação para que as nossas jovens mulheres possam planear a sua vida de forma mais estruturada e consciente.
A gravidez, quando não planeada, pode ser um fator de instabilidade num momento em que a mulher está a iniciar a sua carreira. Isso não significa que a maternidade deve ser vista como um obstáculo, mas sim como um fator que requer organização e suporte. É aqui que a sociedade, as famílias e as próprias mulheres precisam dialogar mais sobre como construir percursos de vida que permitam conciliar sonhos profissionais e escolhas pessoais.
É essencial que haja mais informação e sensibilização sobre a saúde sexual e reprodutiva e os direitos das mulheres. Precisamos estimular o debate sobre a importância do planeamento familiar e do empoderamento económico das mulheres. A educação e o acesso a oportunidades são fatores determinantes para que as mulheres possam assumir o controlo do seu destino sem precisar esconder uma gravidez ou enfrentar dilemas que poderiam ser evitados com melhor preparação.
Mas a responsabilidade não é apenas das jovens mulheres. As empresas e os empregadores precisam rever as suas políticas de contratação e promoção. A equidade de género no ambiente de trabalho não se alcança apenas com discursos, mas com práticas que garantam a inclusão, o respeito e o apoio às mulheres em todas as fases da sua vida. O mercado de trabalho precisa adaptar-se para acolher a diversidade dos percursos femininos, garantindo que nenhuma mulher se sinta obrigada a ocultar uma parte essencial de sua vida para ser aceite profissionalmente.
Políticas públicas mais eficazes são fundamentais para garantir que a maternidade não seja um fator de exclusão social e profissional. O fortalecimento das redes de apoio, como creches acessíveis e horários de trabalho flexíveis, é uma necessidade urgente para permitir que as mulheres possam conciliar a sua carreira profissional com a sua família sem comprometer o seu bem-estar mental e físico.
Não basta apenas oferecer vagas de emprego; é necessário criar condições que favoreçam a permanência das mulheres no mercado de trabalho e seu crescimento profissional. Isso passa pelo apoio a projetos liderados por mulheres, garantindo que tenham acesso a financiamento, capacitação e redes de contatos que facilitem o seu desenvolvimento.
A transformação que propomos não é simples, mas é necessária. Voz do Archipelago está altamente comprometido em criar espaços de reflexão, de propostas e de soluções para as questões que ainda nos impedem de alcançar um verdadeiro desenvolvimento. O futuro de Cabo Verde depende da capacidade de construirmos uma sociedade mais justa e inclusiva, onde as mulheres possam exercer plenamente os seus direitos e potencialidades.
Temos que repensar as oportunidades que oferecemos às nossas jovens mulheres e temos que agir para, como sociedade, construir um ambiente onde nenhuma mulher precise esconder a sua realidade para garantir o seu lugar no mundo do trabalho.
A mudança começa com a consciência, mas só se concretiza com a ação. Voz do Archipelago veio para amplificar essa mensagem e contribuir para a construção de um futuro mais promissor para Cabo Verde.
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