Lisboa vai ser a capital da música em língua portuguesa através do Festival TOM, que juntará em abril de 2026 músicos e produtores de seis países lusófonos e inclui samba, fados e morna, anunciou o curador Pierre Aderne. A apresentação do evento aconteceu na passada segunda-feira, 17, na capital portuguesa, com participação da cantora cabo-verdiana Zulu e outros artistas de países lusófonos, entre eles Orquestra Cordão da Língua Portuguesa, Rua das Pretas (Brasil, Portugal e Cabo Verde), Ana Margarida Prado (Portugal), Kiko Horta e Sanfona Carioca (Brasil), Zulu (Cabo Verde) e Clube do Choro de Brasília (Brasil).
“A ideia é que comece na escala de Lisboa e depois percorra os outros países como um circo musical da língua portuguesa”, explica à agência Lusa o músico luso-brasileiro e anfitrião dos encontros musicais Rua Das Pretas. A iniciativa vai reunir representantes de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe para abrir as portas à música que nos faz “deliciosamente diferentes”.
Para Pierre Aderne, a primeira edição deste festival é “uma caminhada” de “aproximação destes três continentes, que têm a língua como casa, trocando as influências rítmicas, a mutação da língua, o som da língua”. O músico e produtor fala de uma vontade e de um interesse que já acalentava há muito, referindo que “a Rua Das Pretas foi um balão de ensaio”. Inspira-se em nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Amália Rodrigues ou Cesária Évora e pretende que a obra destes artistas seja partilhada e misturada com os novos sons que emergem.
O objetivo é “recuperar o tradicional, o cancioneiro popular, criar e provocar, numa atmosfera de implosão e de partilha entre brasileiros, africanos e portugueses”, diz. “Vamos lá mostrar a importância desses mestres, e criar um mercado alternativo que permita juntar os novos e os mais velhos, numa troca de saberes, com samba, fados e morna. Transcender a música e ir atrás da história desse povo que acabou se misturando e enriquecendo a língua que une os três continentes, e nos faz deliciosamente diferentes”, refere.
Muito mais do que concertos
Pierre Aderne congratula-se por “finalmente” ter conseguido “reunir apoios que permitem andar junto com a comunidade e fazer de Lisboa uma galeria de arte sonora, protegendo a música originária, a narrativa”. Sem anúncios, para já, de nomes mais sonantes ou cabeças de cartaz, o músico desvenda um pouco dos ritmos da primeira edição do TOM, prometendo muito mais do que concertos: elétricos com música, cortejos de rua, oficinas de criação ou palestras, que vão “inundar” a cidade de Lisboa.
“A gente fica mais rico a cada nova palavra, a cada novo sotaque, o importante é demonstrar que a língua venha antes da bandeira, numa biblioteca sonora ambulante, que esperamos possa ter sucesso, para que depois de Lisboa, seja Maputo, seja o Rio de Janeiro a celebrarem a capital da língua portuguesa”, diz o artista, que “assume como sua cada terra que pisa”.
O nome e o mês
Quanto ao facto de em 2026 se festejarem os 30 anos da CPLP, Pierre Aderne diz tratar-se de “uma coincidência” e defende que “as datas podem ser muito cruéis, passam e depois esquecem e o interesse no festival tem de continuar”. Já sobre a escolha do mês de abril, confessa ser pessoal: “foi uma vontade minha, é um mês simbólico para sublinhar a liberdade de ir e vir, e neste momento que o mundo anda tão confuso, temos de seguir com a arte, essa é a grande vontade”.
Em reação ao nome do festival, explica, após uma pausa e um sorriso: “TOM é Jobim, que quisemos homenagear, é ter melodia sem ter de ter harmonia, é se comunicar, é um bom tom”, com o objetivo de “misturar sotaques, brincar, adaptar”. O “TOM – Capital da Música de Língua Portuguesa” tem abertura prevista para 7 de abril de 2026, prolongando-se até ao final do mês.
Copyright © 2025. Todos os Direitos Reservados.