11ª Ilha

Arrancaram nesta terça-feira, 4, eleições nos Estados Unidos, com a nação de olhos na disputa para os cargos de governadores em Virgínia e New Jersey e de Mayor em Nova Iorque,   consideradas pelos analistas políticos um barómetro à Administração do Presidente Donald Trump, a um ano das eleições legislativas. Mas os cabo-verdianos têm a sua atenção concentrada em Brockton, a cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, dos quais cerca de 67 mil estão inscritos para votar, sendo quase 26 mil registados como democratas, pouco mais de três mil como republicanos e quase 38 mil independentes.

Dos 19 lugares em disputa, a de Mayor, equivalente a presidente do município, ocupa o primeiro lugar, com Moisés Rodrigues, natural do Fogo, Cabo Verde, e Jean Bradley Derenoncourt, natural de Port-au-Prince, Haiti, a disputarem o cargo. Rodrigues, de 64 anos de idade e veterano da marinha americana, é vereador há 12 anos, tem um longo historial como activista comunitário, dirigiu por muitos anos a Associação Cabo-verdiana de Brockton, sendo director executivo neste momento, e exerceu por sete meses o cargo de Mayor, depois da morte do então titular, Bill Carpenter, em 2019. Derenoncourt, de 35 anos, trabalha nos Serviços Prisionais e é actualmente vereador na cidade.

Moisés Rodrigues acredita na vitória “por conseguir  fazer o que Brockton necessita” e destaca algo que para ele é histórico: “Pela primeira vez na história dos cabo-verdianos nos Estados Unidos a comunidade está unida, pela primeira vez não se ouve ninguém a falar em MpD, PAICV ou UCID, ele é católico e eu protestante, ele é sportinguista e eu benfiquista, situações que aconteceram no passado”.  Confiante, sublinha que “temos recebido o apoio de todos, líderes locais e cidadãos, temos recebido muito apoio de outros grupos étnicos, por exemplo, apesar de estarmos a concorrer com um haitiano, temos um grande apoio de haitianos, os principais líderes da comunidade haitiana estão connosco, nomeadamente líderes religiosos, bem como latinos, brancos e afro-americanos”.

Após 12 anos como vereador, dos quais seis meses como Mayor interino, Rodrigues decidiu avançar depois de “falar com colegas e a comunidade porque considerei ser este o momento de mudar Brockton, para melhor”.

Ao anunciar a sua candidatura, segundo reitera, procurou evitar um “mal que existe aqui, e também em Cabo Verde, que é o de fazer promessas que não poderemos cumprir”. Como exemplo aponta o facto de haver candidatos a prometer coisas que não competem ao poder local, mas sim ao Estado ou ao Governo Federal.

Perguntei-lhe quais as bandeiras dele:

“Nossas principais bandeiras passam, em primeiro lugar,  pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, através da limpeza da cidade, do combate ao crime, de uma atenção aos sem-abrigo que necessitam de uma resposta das autoridades e, em segundo lugar, promover o crescimento da economia, a partir do aumento e da diversificação da nossa base comercial.”

E explica:

“Os impostos pagos pelos contribuintes, nomeadamente de moradias, representam cerca de 73 por cento do nosso orçamento, enquanto os impostos decorrentes dos negócios rondam os 23, 24 por cento. A nossa aposta é aumentar essa base comercial, não através de mais impostos, mas de mais negócios, de modo a que os impostos dos cidadãos representem entre 50 e 60 por cento e a base comercial atinja mais de 40 por cento. Acredito firmemente que com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, com menos crime, melhor estética da cidade, Brockton será mais atractiva para negócios.”

Com a sua experiência como vereador, Moisés Rodrigues reconhece que um dos principais estrangulamentos ao desenvolvimento económico da cidade passa pela enorme burocracia que tem impedido a chegada de mais negócios. “É um problema fácil de resolver, creio que, em breve, deixaremos de dificultar a vida aos empresários e Brockton será uma cidade com luz verde para os investimentos e não com luz vermelha como agora”, promete.

A política migratória do Governo federal actual, nomeadamente a deportação em massa de imigrantes, não faz mossa ao candidato que diz “não ter visto oficiais do ICE (United States Immigration and Customs Enforcement) na nossa cidade, nem creio que iremos ver”. No entanto,  ele afirma continuar a estimular as pessoas “a irem trabalhar normalmente, a mandarem os filhos para a escola, a não se preocuparem com os rumores e o que dizem nos programas de televisão, mas assegura que “continuaremos a dizer que trabalharemos com todos que querem combater o crime na nossa cidade”.

Durante a campanha, Rodrigues foi criticado por ser parte do sistema e, por isso, nada irá mudar caso ele foi eleito. O seu opositor, Jean Bradley Derenoncourt, concorre como “alguém que vai mudar o sistema e transformar Brockton.

Moisés Rodrigues minimiza as críticas e limite-se a dizer que acha “estranho esse tipo de comentários” e reforça que os seus 12 anos como vereador lhe dão “alguma experiência para gerir uma cidade que tem um orçamento de 640 milhões de dólares e quase cinco mil empregados”.

Em caso de vitória, Rodrigues, que tomará posse a 5 de Janeiro de 2026, assegura que a sua primeira medida será “escolher bem os dirigentes, começar a cortar os anticorpos que têm impedido o desenvolvimento de Brockton e avançar com as medidas que prometi aos residentes de Brockton”.

Refira-se que também hoje será eleitos vereadores e membros da junta escola de Brockton. No total, 16 naturais ou descendentes de cabo-verdianos concorrem a 19 cargos elegíveis num universo de 38 candidatos.

As urnas encerram às 19 horas locais.