O artista luso-cabo-verdiano Dino D’Santiago marca hoje,12, a sua entrada no mundo da ópera com a estreia de “Adilson”, uma obra contemporânea que aborda questões de identidade, cidadania e pertença, no Centro Cultural de Belém.
“Adilson” é uma ópera em cinco atos que retrata a história de um homem afrodescendente nascido em Angola, de pais cabo-verdianos, que reside em Portugal há mais de quatro décadas sem conseguir obter a cidadania portuguesa. A personagem, conhecida por diferentes nomes – D’Afonsa pelos amigos, Nuno pela família e Adilson no passaporte – simboliza milhares de pessoas marginalizadas pelo sistema burocrático.
A obra conta com libreto de Rui Catalão, baseado no texto original “Serviço Estrangeiro”, e direção musical de Martim Sousa Tavares. O projeto, que foi encomendado pela BoCA — Biennial of Contemporary Arts, consolidando a importância da iniciativa no panorama cultural contemporâneo, transforma a espera burocrática em poesia e converte a invisibilidade social num ato de resistência. No momento culminante da obra ecoa uma frase marcante: “Eu não sou português. Eu sou Portugal. Um país à espera”, resumindo a condição de quem vive numa terra que não o reconhece oficialmente.
A estreia coincide com uma data simbólica: os 50 anos do fim da presença militar portuguesa nos territórios africanos, conferindo à obra uma dimensão histórica e política adicional que ressoa com as questões pós-coloniais contemporâneas. As encenações decorrem de 12 a 14 de setembro, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, com sessão inaugural hoje, às 20h00 (hora local).Através de temas como injustiça social, discriminação, fragilidade humana e esperança, “Adilson” funciona como uma travessia simbólica dedicada “aos que vieram antes, aos que vêm agora, e aos que ainda não nasceram, mas já ouvem, ao longe, o batuque do seu nome”.
A obra representa a primeira incursão de Dino D’Santiago no universo operático, consolidando a sua versatilidade artística, posicionando-se como um marco na carreira do luso-cabo-verdiano e uma contribuição significativa para o debate sobre cidadania, identidade e pertença no Portugal contemporâneo, transformando experiências de exclusão em arte de resistência e reflexão social.
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